quarta-feira, 24 de novembro de 2010

SINTOMAS E PROJECÇÕES, uma exposição de LEVI GUERRA


Galeria do Palácio no porto, 4 de Dezembro de 2010 – 23 de Janeiro 2011



Do Texto Introdutório da autoria de Paula Pinto destacamos algumas passagens:

“A complexidade dos seus patamares de vida está associada a uma série de personalidades que elege como modelos da sua própria história. E a sua biografia corresponde a uma soma de acontecimentos onde celebra a troca entre experiências e o que fazemos delas. É nessa permanente busca que o autor se revê. Assim se justifica que, após a perda da actividade científica de laboratório, durante os anos 80, o já reconhecido médico Levi Guerra comece a explorar uma nova arte.”

“Sintomas e Projecções”, “ apresenta-se como uma reflexão sobre os momentos da vida de um médico que se projecta a ler sintomas. Como médico, Levi Guerra celebra a exaltação do encontro com a verdade, mas como cientista e investigador, encontra-se nos momentos de interpretação que ajudam a rever quem somos. É nos momentos em que somos chamados a tomar decisões que nos identificamos. São esses momentos de cariz pessoal mas simultaneamente de conduta ética, que apenas vivemos plenamente através da partilha com um grupo social definido, que se projectam nesta exposição.”

“Os muitos auto-retratos de Levi Guerra revelam essa mesma dupla perspectiva do retrato de autor. Eles representam as diversas capacidades e funções por si desempenhadas. A sua repetição simboliza a polivalência da biografia e expressa a coerência da diversidade das técnicas do seu projecto pictórico. Levi Guerra considera-se “um médico que pinta há mais de 30 anos”, mas essa imagem parece não conseguir estabilizar-se. Ele retrata-se nas suas múltiplas funções, insígnias e títulos honoríficos, ilustra a sua carreira, mas pinta igualmente os seus estados de espírito e as diferentes perspectivas com que vai encarando a vida. Se fosse pintor, diz Levi Guerra, “viveria dos resultados da pintura”; como médico, saboreia a experiência e o encontro com as interpretações que faz.”

“Contrariando a ideia de oposição entre o saber científico do investigador e a expressão visual do artista, a exposição acaba com uma projecção onde se misturaram os slides de aulas de Nefrologia do Prof. Levi Guerra com referências a obras maiores da História da Arte. Convidado a ir a Braga dar uma aula de Anatomia, Levi Guerra acaba por mostrar aos estudantes de Medicina as figuras humanas de Leonardo Da Vinci, Cézanne, Giotto, Luca Signorelli, Piero della Francesca, Annibale Carracci.... Miguel Ângelo. E escreve, “disse-lhes que preparei a palestra a pensar no que gostaria de ter ouvido quando aluno de Anatomia, no meu tempo, como eles agora. E isso justificou o facto da saliência que dei às expressões corpóreas humanas.”[1] Tal como acontece na tela branca, também na vida, o que se projecta não é exactamente o que se cria. “


[1] Levi Guerra, “Inter moras: Expressões corpóreas nas artes plástivas”, in O Primeiro de Janeiro, 7 de Dezembro de 2003.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Israel e Jordânia, de 23 a 30 de Janeiro de 2011


Orientação Cultural: Profª. Doutora Isabel Ponce de Leão

1º dia: Porto ou Lisboa • Tel aviv • Jerusalém
Via cidade europeia. Recepção e assistência pelo representante local. Transfer para o hotel em Jerusalém. Alojamento.

2º dia: Cidade Nova • Ein Karen • Belém
Visita ao Santuário do Livro e o Museu de Israel, onde estão expostos os manuscritos encontrados no Mar Morto; Yad Vashem, museu de recordação do Holocausto e o Bairro de Ein Karem para visitar a Igreja de São João Batista. Prosseguimento até Belém para visitar as Igrejas da Natividade e de Santa Catarina. Jantar e alojamento em Jerusalém.

3º dia: Cidade Velha de Jerusalém
Saída para Monte Scopus para apreciar uma magnifica vista de Jerusalém. Continuação para Monte das Oliveiras, Huerto de Getsemani e Basílica de la Agonia. Passeio pela cidade velha; Muro das Lamentações, Esplanada do Templo onde se encontram as mesquitas de Omar e El Aksa (a entrada as mesquitas não esta permitida). Passagem por la Via Dolorosa, Igreja do Santo Sepulcro e o Mercado Oriental. Continuando até ao Monte Sion para visitar o Tumulo do Rei David, o Cenáculo e a Abadia da Dormição. Jantar e alojamento em Jerusalém.

4ºdia: dia: Mar Morto • Massada
Saída de Jerusalém passando por Maale Adumim e a Pousada do Bom Samaritano. Viagem pelo Deserto da Judeia, chegando a região do Mar Morto, lugar mais baixo do mundo (390 m. baixo do nível do mar). Entrada no teleférico da Fortaleza de Massada. Visita as escavações do Palácio de Herodes. Tempo para desfrutar de um banho nas águas do Mar Morto (se o clima permitir). Regresso a Jerusalém. Jantar e alojamento em Jerusalém.

5º dia: Jerusalém • Jerash • Amã
Saída para a Fronteira de Sheikh Hussein. Realizados as formalidades, passagem para Jordânia e continuação até Jerash, uma das mais bem preservadas cidades Greco-Romanas do Mundo com o Teatro, Estrada de Colunas, Fórum, entre outros de igual esplendor. Após a visita, viagem até Amã, capital da Jordânia. Breve visita da cidade. Jantar e alojamento em Amã.

6º dia: Amã • Petra
Dia dedicado a Petra, antiga capital dos Nabateus. A visita começa um passeio de cavalo, seguido de um passeio pelo Siq, um estreito canyon flaqueado por enormes rochedos. Prosseguimos gradualmente para os mistérios da "Rose-Red City", cravados na pedra, com o seu espectacular Tesouro, os Túmulos Reais, locais de sacrifício e câmaras buriais. Jantar e alojamento em Petra.


7º dia: Petra • Pequena Petra • Madaba • Monte Nebo • Amã
Partida para pequena Petra. Visita. Dia inteiro a explorar a Estrada do Rei, uma das mais memoráveis na Terra Santa, passando por uma série de históricos locais, fazendo parte ainda da antiga Rota da Seda. Visita de Madaba, a "Cidade dos Mosaicos", onde poderá admirar o famoso mapa em mosaico de Jerusalém e da Terra Santa, do Sec. VI. Paragem no Mosteiro de Monte Nebo de onde pode observar o Vale do Jordão e a Terra Prometida. Prosseguimos para Amã. Jantar e alojamento em Amã.

8º dia: Amã • Porto
Transfer para o aeroporto. Voo Amã – Porto via cidade europeia.
  

VALOR por PESSOA EM QUARTO DUPLO no regime de PENSÃO COMPLETA Hotéis de categoria 5*: 2.420,00€

SUPLEMENTO para QUARTO INDIVIDUAL: 545,00€

O preço inclui:
4 noites em Jerusalém, na categoría de hotéis seleccionada;
2 noites em Amman, na categoría de hotéis seleccionada;
1 noite em Petra, na categoría de hotéis seleccionada;
Transferes;
Autocarro de luxo privado;
Guia profissional a falar português durante as visitas;
Entradas e visitas nos lugares mencionados;
Em Israel, jantar de despedida com certificado de peregrinação;
Taxas de aeroporto e segurança;
Vistos.

O Preço não inclui:
Não inclui quaisquer outros serviços não mencionados no programa, tais como extras de carácter pessoal, opcionais, bebidas e refeições não mencionadas.


Inscrições Abertas até ao dia 2 de Novº./2010

Pagamento de 30% no acto da inscrição e entrega de fotocópia do passaporte

Visita de Estudo, S. JOÃO DA MADEIRA, 17 de Dezembro de 2010


Saída do Instituto: 8.30 h
Chegada ao Instituto: Pelas 18 h


Programa da visita:
- Recepção pelo Vice-Presidente da Câmara Municipal

Visitas:
• Fábrica de lápis VIARCO, com acompanhamento do pintor
• José Emídio ( Director das Oficinas da Coop. Árvore)
• Museu da Chapelaria
• Paços da Cultura (arquivo da cidade)
• Centro Empresarial Tecnológico
• Fábrica de sapatos em laboração
• Passeio de autocarro com paragens e comentários sobre:
• Casa das Artes do Espectáculo e da Criatividade
• Oliva Creative Factory
• Zona Industrial das Travessas
• Parque Urbano do rio Ul ( Parque da Cidade, concebido pelo Arquitecto
Sidónio Pardal)
• Palacetes – Rei da Farinha e Conde Dias Garcia
• Almoço - Casa do Morgado (restaurante implantado em casa senhorial do
séc XVII)
• Lanche - Fábrica dos sentidos, no Museu da Chapelaria

Custo da viagem 48,50 € ( pagos no acto da inscrição)

VIAGEM, Da Paris Moderna à Contemporânea

Profs. Maria de Fátima Lambert e Paulo Reis, De 14 a 19 de Dezembro de 2010

A viagem realizar-se-á num período em que – até meados de Dezembro próximo - convergem eventos irrepetíveis ao nível, quer das Artes Plásticas, quer das Artes Performativas: exposições, recital e espectáculos de Dança e Ópera que reúnem nomes emblemáticos do panorama contemporâneo e actual.
Uma viagem através das referências modernas desde os finais do século XIX - Rodin e Monet – às Primeiras Vanguardas Artísticas do século XX - Construtivismo Russo e Holandês (De Stijl) até Henry Moore. Uma passagem especial sobre as obras de mulheres artistas do século XX até o momento contemporâneo com Arman, Orozco, Spero, Basquiat, etc… Na dança a modernidade de George Balanchine às referências contemporâneas de Trisha Brown e Pina Bausch. Uma viagem pelos territórios artísticos diversificados do Século XX ao momento actual.

Dia 14.12.2010 – Terça-feira, saída Porto / Paris
Obs: neste dia pode-se chegar ao hotel, descansar, jantar e ir à ópera (19h30) ou à dança (19h30)

Dia 15.12 (Quarta-feira) – Visita ao Centro Georges Pompidou, das 11 às 21h
Mondrian / De Stijl – Exposição consagrada aos cruzamentos entre o movimento De Stijl e Piet Mondrian, sua figura magistral: Mondrian, actor central de vanguarda estabelecue um novo vocabulário “nova plástica abstracta”, lado a lado de Theo Van Doesburg et Gerrit Rietveld, os outros fundadores desse movimento transdisciplinar que aborda a pintura, a escultura, o urbanismo, a arquitectura, a concepção de mobiliário e o grafismo.
Elles@centrepompidou – a exposição, que já recebeu mais de 2 milhões de visitantes desde a sua abertura, apoia-se numa das mais significativas colecções europeias de Arte Moderna e Contemporânea.
Arman - O Centre Pompidou consagra uma exposição retrospectiva a Arman, uma das figuras magistrais da Arte do pós-guerra: cerca de120 obras realizadas desde meados dos anos 50 ao final do séc. XX.
Gabriel Orozco – artista que impõe a sua obra nos inícios dos anos 90, sendo um dos artistas mais importantes da sua geração. Ocasião única para descobrir um conjunto excepcional dos seus desenhos, fotografias, esculturas e pinturas.

Dia 16.12 (Quinta-feira, Manhã) – Visita à La Maison Rouge
Les recherches d’un chien – trata-se da 1ª exposição concebida e organizada colectivamente pelo grupo de Fundações Face, cujos membros são: a Fondation DESTE, Athènes (Grécia), a Fondation Ellipse, Cascais (Portugal), a Fondazione Sandretto Re Rebaudengo - Turin (Itália), Magasin 3 Stockholm Konsthall (Suécia) et La maison Rouge, Paris (França). Toma o título a partir da obra de Franz Kafka, cujo herói canino desenvolve uma investigação sobre a sua condição animal ou, mais concretamente, sobre o seu sentimento de pertença comunitária.

Dia 16.12 (Quinta-feira, Manhã) – Fundação Cartier
A exposição MOEBIUS-TRANSE-FORME nasceu de uma longa colaboração entre Moebius e a Fondation Cartier pour l’art contemporain, iniciada quando da Aª apresentação da sua obra em 1999; para a mostra patente contou com a colaboração de Alberto Manguel e Paul Virilo.

Dia 17.12 (Sexta-feira, manhã) - Musée d’ Art Moderne de la Ville de Paris
Larry Clark – Primeira retrospectiva do fotógrafo e realizador Larry Clark, nascido em 1943 - Tulsa nos Estados-Unidos. A exposição abarca os 50 anos de criação do artista, exibindo alguns trabalhos inéditos.
Les russes a Paris - Musée d’Art moderne de la Ville de Paris convidou o Musée Galliera a uma mostra de obras das suas colecções permanentes focadas na criação pictural e têxtil de Sonia Delaunay (1885-1979) e Natalia Gontcharova (1881-1962), ambas artistas de origem russa.
États de l’Artifice: uma proposta de Elena Sorokina reunindo artistas que produzem nas áreas do filme e do vídeo, no âmbit do ano França - Rússia 2010.
Jean-Michel Basquiat – Mostra retrospectiva por ocasião do 50º aniversário do nascimento do artista.

Dia 17.12 (Sexta-feira, tarde) - Palais Tokyo
Fresh Hell – Cartographie du cerveau de l’artiste, seus desejos, onfluências, a “Carta Branca” a um artista é ocasião para concretizar a aproximação numa abordagem inédita dos processos de criação e incidências estéticas. Adam McEwen (artista britânico vivendo em New York) concebe um projecto onde dialoga a escultura medieval com a arte conceptual, celebrando artistas esquecidos e questionando a própria história. FRESH HELL mergulha na História, próxima ou longínqua… caminhando por movimentos laterais e orgânicos, promovendo paradoxos e provocando uma abordagem inédita…

Dia 18.12 (Sábado, manhã) – Vista ao Museu Rodin
Henry Moore, L`Atelier Sculptures et dessins + Monet – Rodin Rien que vous et moi + Les corps comme sculpture

Dia 18.12 (Sábado, tarde) – Vista ao Musée National des Arts Asiatiques Guimet
O Museu Guimet nasceu na sequência do projecto do industrial de Lyon, Émile Guimet (1836-1918), de criar um museu das religiões do Egipto, da Antiguidade Clássica e dos países da Ásia, depois da sua grande viagem a partir de 1879. Colecção requintada, diversificada que nos direcciona para um conhecimento aprofundado das obras constantes na Exposição permanente e nas mostras temporárias.

Dia 19.12 (Domingo) – visita livre ao Museu du Louvre (ou qualquer outro museu)

Programa complementar / Dança
Dias 14, 15, 17 e 18 (terça, quarta, sexta e sábado) – Balanchine / Brown / Bausch
Trois pièces essentielles du répertoire : Apollon de George Balanchine à l’abstraction lyrique et évocatrice, O złozony/O composite de Trisha Brown onde a dança pós-moderna se conjuga com o vocabulário clássico e mítico do Sacre du Printemps de Pina Bausch à dança profundamente teatral.
ÓPERA GARNIER

Dias 14 e 17 (terça e sexta) Ópera, ARIADNE AUF NAXOS
Richard Strauss e Hugo von Hofmannsthal assinaram o mais belo manifesto de confronto de géneros, cómico e trágico numa das obras mais emblemáticas do séc. XX.
OPÉRA BASTILLE

Programa complementar / MÚSICA
Dia 19.12 (domingo, às 16h, Concerto de Cecilia Bartoli (programa Handel)
SALA PLEYEL

Dia 19.12 (Domingo à noite) – regresso ao Porto


Inscrições abertas até ao dia 24 de Novembro de 2010

Preço por pessoa em quarto duplo: 1.160,00€
Suplemento para quarto individual: 275,00€

Suplemento para meia-pensão (5 jantares): 140,00€

O preço inclui:
Voos Porto-Paris-Porto; todas as taxas incluídas; transferes de autopullman, aeroporto-hotel-aeroporto; entradas em todos os museus indicados; seguro de assistência em viagem.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

A CULTURA NACIONAL, por Carlos Marques Pinto


JANEIRO de 2006, DO BLOGUE http://aalmanaoepequena.blogspot.com

Entendi que seria interessante colocar aqui um texto que fui elaborando sobre a cultura portuguesa e o seu impacto no devir português. A extensão do texto leva a que eu o vá colocando, em partes, ao sabor da vida deste blog.

A CULTURA NACIONAL, CAUSA PRIMEIRA

Surpreendo-me amiudadas vezes em deparar com gente com responsabilidades e uma tremenda ignorância sobre o impacto social da cultura. “Nunca tinha pensado nisso!”, “Realmente…”, são confissões que vou escutando. E a questão é que a causa primeira da actual crise portuguesa é a cultura nacional, a forma de ser dos portugueses, a forma de fazerem as coisas, sempre ignorada por eles, pelas suas elites, pelas suas classes dirigentes. E também o é de uma boa parte da europa, da velha europa, termo que, conforme resulta do que adiante digo, me parece correctíssimo.

Aqueles que pretendam fazer política séria, com rigor, têm a obrigação de compreender como a cultura condiciona o debate e a resolução das questões sociais, políticas e económicas, têm a obrigação de compreender como a cultura se faz e têm a obrigação de compreender como a cultura se muda e de que hoje há conhecimento sobre o acelerar dessa mudança.
Urge mentalizar elites e urge renovar elites, elites que o saibam e o usem no garantir de um futuro para a nação.


1. O que é a cultura

Comecemos antes do mais em situar o que se entende por cultura. A cultura de uma sociedade manifesta-se nas atitudes e nos comportamentos dos seus membros. Daí que os americanos digam, de uma forma simplista, que a cultura é “a forma como fazemos as coisas por aqui”.
Os comportamentos e atitudes resultam das crenças e valores − aquilo em que os membros da dita sociedade acreditam e aquilo a que, embora eventualmente não pratiquem, atribuem importância −. Em muitas sociedades tradicionais, por exemplo, havia a crença de que a velhice significava sabedoria e, nessa medida, os velhos eram particularmente respeitados, através de atitudes e comportamentos ajustados dos demais membros dessas sociedades. Valores e crenças vão-se alterando, embora mais lentamente que as atitudes e comportamentos. Mas existe cada vez mais conhecimento sobre como o fazer.
Por sua vez, valores e crenças assentam em algo mais profundo, as ditas assunções básicas, um conjunto de premissas fundamentais, mais profundamente entranhadas em mecanismos do inconsciente e, por isso mesmo, mais dificilmente modificáveis. Há quem sustente que tal só é possível com a ocorrência de acontecimentos traumatizantes, através de profundo sofrer.
2. Como se forma e como se muda a cultura

A cultura forja-se das experiências do viver, do superar das dificuldades e traumas, da alegria das conquistas. Em suma, é o passado que a cunha na memória de cada um. Ela adquire-se, pois, pela aprendizagem/vivência que cada membro da sociedade nela faz, seja na família, seja na vizinhança, seja na escola, seja no grupo de amigos, seja no clube, seja na organização onde se trabalha. Este processo de aprendizagem de cada um é condicionado geneticamente pelas características de cada um e é também condicionado pela aprendizagem e pelas experiências vividas anteriormente, nomeadamente as mais traumatizantes.
Damásio diria, eventualmente, que a cultura se entranha em cada um através da formação (e destruição) de redes neuronais, redes que constituiriam os marcadores somáticos do processo decisório. Ou seja, as vivências/aprendizagens de cada um conduziriam à formação de redes de neurónios que condicionariam o processo segundo o qual o indivíduo interpreta a realidade exterior e produz a resposta aos estímulos sentidos.
Numa perspectiva sociológica, convém notar que Marx assentou a sua perspectiva da história na hipótese de que a cultura é condicionada pelo modo de produção da sociedade. Ou seja, a forma como uma comunidade desenvolve a actividade económica tem um grande impacto na sua cultura. Acredito que, se vivesse hoje, encontraria como verdade mais ampla o assentar aquele condicionamento na tecnologia ou tecnologias, latus sensus, empregue pela sociedade.

Cada um reflectir no processo de formação da cultura, procurando em si exemplos que conheça, é um exercício importante para melhor assimilar o seu impacto no devir de uma sociedade. Embora ao longo deste texto vá citando aspectos que contribuem também para tal fim, parece-me importante citar exemplos.

Um, o exemplo do impacto negativo que o prolongar do imposto da SISA teve na cultura nacional. Realmente, o prolongar no tempo de imposto tão descabido, permitiu elevadíssimas margens de lucro às empresas do sector, pela via da fuga ao IRC. Ora quando há elevadas margens de lucro, não se necessita do rigor, da boa gestão, como acontece na maioria dos negócios. Tal fomentou, pois, nas empresas do sector, a prática de todas as espécies de desperdícios, de improdutividades, de negociatas de momento, de incompetências, de fraudes. Ora sendo um importante sector de actividade nacional, quem nele trabalha e quem com ele convive oito ou mais horas diárias da sua vida, adquire esses maus procederes e transporta-os para a vida da comunidade. Também a generalizada constatação de que os agentes do estado responsáveis pela avaliação do real valor dos imóveis conviviam bem com a fraude generalizada ao estado, contribuiu, como continua a contribuir em casos similares, para moldar o proceder do homem comum português. Porque a cultura se faz de vivências.

Outros exemplos significativos de como a cultura se faz radicam no forte carácter simbólico dos actos dos dirigentes. Sabe-se que os actos destes têm um profundo impacto nas respectivas sociedades. Não importa tanto o que o chefe diz, como aquilo que ele faz. Que importa que o chefe diga que nos devemos preocupar mais com o planear as coisas se, no dia a dia, tudo o que ele faz é desenrascar? Os seus colaboradores, como ele, tratarão de desenrascar. Ora dar o exemplo não é atributo da grande maioria dos nossos dirigentes, nomeadamente dos da classe política. São sinais incorrectos que são enviados ao homem português e que ele interioriza na sua cultura.

3. Componentes da cultura nacional que importa mudar

Aborde-se agora o que considero as características mais inadequadas do povo português face ao momento histórico que atravessa.

A cultura portuguesa foi particularmente dissecada e debatida, a partir do século XIX, por homens de cultura e escritores. Actualmente, existem estudos internacionais que a comparam com a de outros países.

Sabemos hoje uma das características fortemente vincadas da nossa cultura é a dificuldade em lidar com a incerteza do que pode acontecer no futuro, vulgarmente dita como aversão ao risco.
Esta é a razão por que temos dificuldade em planear: é que planear implica o estabelecer de objectivos, estados que se pretendem atingir no futuro; o português arreceia-se de a tal se arriscar e com tal se comprometer; prefere deixar andar, supor que o vai acontecer amanhã é o mesmo que aconteceu ontem; o resultado é o ter de desenrascar, normalmente com custos mais elevados. À escala nacional, eu diria que é o que explica a nossa situação económica neste momento: as classes dirigentes, desde 1985, não planearam em termos estratégicos o futuro da nação, não estabeleceram os grandes objectivos nacionais em termos de sobrevivência e prosperidade, subordinaram-se aos interesses instalados − interesses estes que são necessariamente interesses do passado e, por isso, muitos deles não adequados às necessidades futuras −, deixaram andar e, agora, parece querer desenrascar.
Sabemos que as empresas bem sucedidas, a partir dos anos de 1960, passaram a efectuar o seu planeamento, não tanto em função do passado, mas mais das ameaças e das oportunidades que anteviam no seu futuro. E para o fazer, desenvolveram metodologias adequadas. Tal deveu-se ao crescente aumento do conhecimento humano e, particularmente, às tecnologias de informação e de comunicação, os reais facilitadores da globalização. Tal implicou que cada empresa deparasse sistematicamente com novos produtos concorrentes, com o encurtar dos respectivos ciclos de vida e, também, com novos concorrentes que se apresentavam vindos de algures. Ou seja, o futuro tinha deixado de ser para ela um mero prolongamento do passado como até então o fora.
Hoje, este fenómeno, estende-se a toda a sociedade: o futuro comanda cada vez mais as nossas acções no presente. E, contudo, a nossa cultura, é cunhada, como vimos pelas nossas anteriores vivências, pelo passado. Assim, temos de mudar mais frequentemente e mais profundamente, mas a nossa cultura dificulta-o. As empresas, nomeadamente as estado unidenses, investiram no investigar de como se deve lidar com a resistência que a cultura coloca à mudança, e hoje existe um corpo de conhecimento razoável sobre como o fazer.
Colocada a dificuldade do português em lidar com a incerteza do futuro e compreendido o importante que é agir no presente mais em função dele, no mundo actual, compreende-se a necessidade melhor a necessidade imperiosa de acelerar a mudança desta nossa componente cultural.
Outras importantes características também fortemente vincadas da nossa cultura, já enunciadas por um Verney, por um Antero de Quental, por um António Sérgio, e por vários escritores e ensaístas do século passado são a excessiva dependência homem português e o seu elevado grau de colectivismo. Por um lado, passivo, submisso, dependente, nunca assumido − Jorge de Sena dizia que “o homem português nunca cortou o cordão umbilical” −, característica designada por Hofsted como feminilidade. Por outro, colectivista − significando-se com tal que ele procura a protecção de grupos que lhe defendam os interesses[1] −.

A feminilidade alia-se e potencia a já referida dificuldade dele lidar com o futuro.
O elevado colectivismo indu-lo a constituir grupos que visam mais o defender-se do futuro, que a agir para o aproveitar ou para o procurar influir. Este colectivismo, que também se observa em elevadas proporções noutros povos, como o japonês[2], não é de molde a aproveitar o actual evoluir das sociedades. Na realidade, as sociedades mais
 individualistas, como a sueca, a australiana e a estado unidense, podem, porque permitem um evoluir mais flexível, em termos darwinistas, responder melhor às profundas alterações provocadas pelo elevado crescimento do conhecimento. Talvez que este factor não seja alheio à estagnação da economia japonesa a partir dos anos de 1990.

Também aqui importa acelerar a mudança destas componentes culturais.

Seria importante mudar outras características culturais, mas, em meu entender, com um menor impacto no nosso futuro enquanto nação.
(continua)

[1]
 Os povos do norte da europa e os anglo-saxónicos são maisindividualistas, significando este termo que cada um assume nas suas mãos o seu futuro, sem necessidade de recorrer ao apoio do estado, família ou grupos de interesse. António Sérgio designava esta atitude de singularismo, optando por designar o colectivismo por comunitarismo.
[2] As razões para o colectivismo japonês são diversas das portuguesas. Terão essencialmente a ver com o manter de características da sociedade feudal anterior à 2.ª guerra mundial, na posterior sociedade industrial.


4. Como mudar aquelas componentes indesejáveis

A grande questão é de como se há-de promover tais mudanças culturais. Como disse, existe hoje bastante conhecimento sobre técnicas e metodologias para alavancar mudanças culturais. Tais métodos visam refazer as redes neuronais que levam cada um ao seu entendimento do mundo e das coisas, levando-o a adoptar outras formas de o fazer. Quando se trata de sociedades, os meios de comunicação social podem desempenhar um papel relevante no pôr em causa as velhas certezas e no forjar das novas realidades.

Mas profundas alterações no modo como a sociedade portuguesa desenvolve as suas actividades económicas e sociais é, para mim, a chave da questão, o que é realmente necessário para assegurar que as novas realidades se entranhem. Daí que entenda ser fundamental a adopção de dois conjuntos de medidas, em simultâneo.

Um primeiro relacionado com as classes dirigentes, porque a liderança é nesta questão um ponto fundamental, como bem o sabe o povo. Os líderes, como disse, emitem sinais que condicionam o comportamento dos seguidores. Ora uma boa fatia das nossas classes dirigentes, e não só políticas, ou até públicas, mas também privadas, como associações patronais e sindicais, é pouco capaz ou serve-se em lugar de servir. Grande parte é gente pequena, empoleirada em alturas em que se têm de proteger das vertigens.
Haveria que criar condições para que os bons que nelas restam, procurem arrebanhar aqueles que ainda se possam corrigir; que criar condições para que se promovam organizações cívicas, para além dos partidos, afim de gerar novas elites. E haveria que as preparar para contribuírem para a necessária mudança cultural.
Não é tarefa fácil dado o estado de deterioração atingido, pelos muitos telhados de vidro que inibem muitos. Sem resolver este particular aspecto, será difícil uma ampla mobilização. Mas muita coisa se pode e tem de fazer, até apara o apoio ao segundo conjunto de medidas que proponho.

E este segundo conjunto de medidas é a receita liberal: o reduzir drasticamente o aparelho do estado, o aumentar a sua credibilidade e o seu desempenho; o entregar muitas das actuais funções do estado a organizações da sociedade civil; o fomentar um mercado mais livre e concorrencial, em que não se temam as boas gestões estrangeiras − que a independência de uma nação é a das almas dos seus cidadãos e não o do controlo de pseudo centros de decisão económica −.Seria um crescimento doloroso, estou certo, mas ajudaria a mudar a postura da mulher e do homem português para atitudes mais consentâneas com a sua sobrevivência futura.

Pautando-me, em teoria, por outros catecismos, reconheço ser este o remédio apropriado para o momento nacional.

A ser assim, seria bom que a esquerda abandonasse ideias e vestes do passado, que procurasse vias para evitar ou minorar os reconhecidos efeitos secundários do remédio, e que cuidasse de lhe encontrar alternativas credíveis para o futuro. Pessoalmente, penso que devia pugnar para que os actuais serviços estatais de educação, saúde, de solidariedade fossem sendo progressivamente apropriados por organizações locais radicadas nos seus principais utentes. Penso que deveria pugnar para que se criassem organizações cívicas de cidadania com real poder de intervenção a nível local. Fundamentalmente, contribuir para a criação de um espírito cívico, de solidariedade e de independência no cidadão português.
Seria bom todos acordarmos para o impacto que a cultura tem no nosso futuro. Ignorá-la é escolher a via mais difícil e, portanto, custosa de fazer mudanças. Mas é, sobretudo, aumentar o risco de cometer erros graves na tomada de decisão política. Como no exemplo do prolongar no tempo do imposto da SISA, que acima se viu.

Turquia - Vale de Goreme, Marilia Costa

3 poemas de Carlos Marques Pinto



Palavras

Amanheço palavras
Amanho-as
Para além da razão
Cresço-as no coração
E vão
Ser com alguém
Ou não

Vão
E despedaçam-nas
Embrulham-nas
Alguns
Ficam com elas
No coração
E fazem-nas razão
Ou não.

C. Marques Pinto


Canções

Amanhecem canções
Que ecoam nas noites
Amanhecem canções
Que a noite faz esquecer
Amanhecem canções sem ocaso.

E há sempre gente a amanhecer canções.

C. Marques Pinto


Mas …, Sara 
Ou Para uma neta que crescerá


Cobrir-te-emos com as roupas da humanidade,
Mas aprenderás a despi-las.
Que o caminho para a luz é, humanamente,
Para além da humanidade.

Ensinar-te-emos a separar as coisas,
Mas aprenderás que tudo é uno.
Porque não é dividindo
Que alcançarás o Todo.

Ensinar-te-emos que o tempo é um ditador,
Mas aprenderás a usá-lo.
Só lhe reconhecerás sentido
Nas trivialidades do mundano.

Ensinar-te-emos a escrever e a dizer,
Mas aprenderás a ouvir.
Porque só quando entenderes o outro
Acederás à compaixão.

E amarás o silêncio e o seu sentir,
Para além de tudo o que é mundo.
E então, só então, conhecerás
A paz para além da felicidade.

C. Marques Pinto

O Blogue Oficina da Cultura.


A Internet é uma das formas dos seres humanos interagirem entre si e entre grupos com interesses comuns, permite a criação de uma gama diversa de serviços de interacção social, estimulando a formação de grupos e comunidades, a partilha de ideias e valores, textos, imagens e sons; é um lugar onde podemos escutar e ser ouvidos.

O blogue Oficina da Cultura do Instituto D. António Ferreira Gomes, pretende criar e promover relações de pertença e socialização entre os alunos, dar visibilidade às suas ideias e voz aos seus desejos, ser uma janela aberta à comunidade.

Aqui iremos encontrar textos em prosa ou poesia, ensaio e ficção, fotografia, desenho e pintura, e os programas da rádio Cultura no Ar.

Usando a Internet para produzir a nossa própria informação, queremos fomentar um olhar crítico sobre o mundo que nos rodeia, valorizando diferentes formas de sentir a realidade e a experiencia dos autores, procurando ser um mediador para a questão “O que é que eu posso dar à sociedade num momento em que os políticos não têm solução para tudo?
  
Sejam bem-vindos!