segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Cesário Guedes da Costa e Lourdes Costa

Ainda antes da publicação da entrevista a Cesário Guedes da Costa e Lourdes Costa, vamos conhecer um vídeo sobre a preparação do livro Lua Enevoada de Lurdes Costa.




Um dos mais belos poemas desse livro: Vem Outono.



Não deixem de visitar o canal no youtube onde podem acompanhar algumas das actividades deste casal. O site fica em http://www.youtube.com/user/ACESARIOCOSTA1

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

O Fogo, um texto de Agustina Bessa-Luís




Dissipada a tormenta do fogo que se desencadeou sobre o país, pensamos devidamente nos efeitos duma calamidade na alma dum povo. Um povo que era sobretudo de idade maior, que se julgava ao abrigo de surpresas, que tinha criado os filhos e esperava acabar tranquilamente os seus dias. Numa espécie de festa, senão de abundância, pelos menos da paz quanto a necessidades.
O fogo veio mudar tudo nas suas vidas. E certo que tinham chamado com persistência. As serras e os caminhos estavam cobertos de fetos e tojo secos; os madeireiros deixavam a folha dos eucaliptos e só retiravam os toros; a temperatura tornou-se explosiva e a catástrofe deu-se. O fogo tem um espírito próprio, como algumas pessoas compreenderam. Brinca, salta, comunica-se com uma espécie de euforia gigantesca, e os bombeiros sabem quando ele é indomável. Sabem que o fogo, a certa altura, já não é um inimigo mas um agente da própria paisagem. Em Portugal, os media esforçaram-se por carregar o drama, deixando poucas esperanças às vítimas, optando pela lamúria e convidando à mendicidade os mais lesados. Em França, decerto acompanhados por psicólogos e terapeutas do flagelo, disseram: "Em cinco anos a terra reverdece e a terra recompõe-se". Não é tempo de assustar mais os que foram já tão vencidos pelo terror. E tempo de os confortar e deixar que decidam das suas vidas da maneira mais justa.
É provável que muitos desistam, porque são idosos e lhes faltam as forças para recomeçar. A região agrária e os espaços de lazer vão mudar. Haverá empresas interessadas em novos modos de recreio e de produção. Aldeias inteiras tendem a desaparecer, para dar lugar a campos industriais, incluindo a indústria de férias. Temos um Portugal rural que é um desastre a todos os títulos. Nem rende, nem alegra, nem progride na imitação da felicidade material ou outra.
O que aconteceu não foi experimental. Fez-se o que se pôde para minorar os perigos; tem que fazer-se muito mais para mudar a paisagem, e aproveitar os males para favorecer uma nova interpretação de vida. Os novos estão aí para abrir as portas que se fecharam. São bem capazes disso, se descobrirem que são homens e não crianças.

"Fonte nº1", uma revista do Instituto Cultural D. António  Ferreira Gomes.

O Palácio de Cristal, por Rui Cunha


Por iniciativa de alguns ilustres portuenses, dos quais se destacou  Alfredo Allen, 1º visconde de Villar d' Allen, numa época de grande desenvolvimento da industria no norte do país e em especial na nossa cidade do Porto, foi construido um edifício à semelhança do Crystal Palace de Londres, e que se destinava a acolher a grande Exposição Internacional do Porto prevista para 1865, organizada pela então Associação Industrial Portuense. 
Para tal foi escolhido o campo da Torre da Marca que se situava na Rua do Triunfo, na zona de Vilar.

A Torre da Marca, destruída durante o cerco do Porto de 1832/34, servia de baliza para os barcos que circulavam Douro acima, a caminho do Porto. Tinha uma abertura vertical a meio que orientava os barcos no bom caminho quando avistavam por ela a Torre dos Clérigos.

A construção do Palácio de Cristal (1865/1951) foi iniciada em 1861 e o autor do projecto foi o arquitecto inglês Thomas Dillen Jones. O saudoso rei D. Pedro V deslocou-se propositadamente para assentar a sua primeira pedra.
Foi em 1865 D. Luis I que o veio inaugurar.

Media 150 metros de comprimento por 72 metros de largura e era dividido em três naves.
A Exposição Industrial, para além de contar com a visita oficial do rei D. Luís, de Dona Maria Pia e do príncipe herdeiro, D. Carlos, contou ainda com 3.139 expositores, dos quais 499 franceses, 265 alemães, 107 britânicos, 89 belgas, 62 brasileiros, 24 espanhóis, 16 dinamarqueses e ainda representantes da Rússia, Holanda, Turquia, Estados Unidos e Japão.




Ao longo dos seus 86 anos de existência, o Palácio de Cristal acolheu muitas outras exposições, destacando-se a exposição das rosas, em 1879, a exposição agrícola, em 1903 e a Exposição Colonial, inaugurada em Junho de 1934. Desta última exposição sobrevive o Monumento ao Esforço Colonizador Português, que estava em frente ao palácio e actualmente se encontra na Praça do Império.
No topo Sul do Palácio de Cristal existiu um dos melhores órgãos de tubos da Europa que foi construído sob a orientação de Charles-Marie Jean Albert Widor (Lyon, 21 de Fevereiro de 1844 – Paris, 12 de Março de 1937) e por este inaugurado. Widor foi organista, compositor e professor do Conservatório de Paris e tem uma extensa obra para órgão. Na sessão inaugural do órgão Widor tocou uma peça musical por si composta propositadamente para esse concerto. Esta peça foi de novo executada em 1995 no concerto de inauguração do órgão romântico da Igreja da Lapa.
Era o Palácio de Cristal um local onde se deslocava, em especial ao domingo, a população elegante do Porto para admirar as maravilhosas vistas sobre o Douro, o mar e Gaia, tomar chá na Avenida das Tílias e nos seus lindíssimos jardins.


Estes incluem o chamado Jardim Emílio David que possui belos exemplares de rododendros, camélias, araucárias, ginkgos e faias, para além de fontes e estátuas alegóricas às estações do ano. A Avenida das Tílias constitui o eixo mais marcante deste parque e está ladeada pela Biblioteca Municipal Almeida Garrett (onde se situa a Galeria do Palácio), pela Concha Acústica e pela Capela de Carlos Alberto, construída pela princesa de Montléart em homenagem ao rei Carlos Alberto da Sardenha, (Paris, 2 de Outubro de 1798 — Porto, 28 de Julho de 1849) seu irmão.

Foi o Palácio de Cristal um local dedicado à cultura no seu teatro Gil Vicente. Foi aqui que se realizaram importantes concertos do compositor Viana da Mota e da virtuosa violoncelista Guilhermina Suggia e se apresentaram os melhores actores do tempo.


Esta sala foi muitas vezes cedida para realização de festas de beneficência, comemorações etc. A C.M.P. punha esta sala à disposição da cidade, até porque não havia muitos outros locais do género.
Em 1933 a C.M.P. adquiriu o Palácio de Cristal. Esta, em 1951, alegando que era muito caro manter um edifício com as suas características e no estado em que se encontrava, decidiu cometer o crime de lesa-cidade de o destruir, para que no seu lugar fosse construído um pavilhão de desportos, em betão armado, segundo projecto do Arquitecto Carlos Loureiro destinado a nele se realizar o campeonato do mundo de hóquei em patins, que Portugal ganhou. Os portuenses, indignados e convictos que se teria tratado de um grande negócio para alguns, e dão o desenho deste pavilhão, designavam a obra como “ a grande mama”. A verdade é que se dizia que a enorme quantidade de metais de ferro e chumbo (do órgão) não mais se soube onde foram parar.








Memórias pessoais – Muitas vezes a minha mãe nos levou ao Palácio para nos deliciarmos com as suas surpresas. Lembro-me bem dos carrinhos, da roda dos cavalinhos, dos baloiços, dos balancés, das caixas de areia para saltarmos, dos escorregões, do anel rolante preso ao poste. Das grandes corridas na avenida da tílias.
Do lindíssimo lago com a sua ponte e a gruta, onde mais tarde andava de barco ou gaivota. Dos animais, em especial o leão, da aldeia dos macacos, dos pavões e galinhas da Índia, dos papagaios.

Andei de patins, bicicleta e triciclo naqueles grandes salões laterais, corridas de sacos e, com os olhos tapados, acertar no cântaro com água ou areia… Ainda assisti a uma inesquecível exposição de rosas que pela sua grandeza me espantou. Lembro-me de duas exposições de automóveis, o do maravilhoso Princess que para mim parecia um Rolls-Royce.

Lembro-me da festa da paróquia do Carvalhido, no Teatro Gil Vicente, na qual assisti à actuação das irmãs Trigueiros, uma das quais, uns dez anos após, vim a conhecer e que seria a minha mulher.
Assisti a teatros e concertos.Vi uma exibição de ginástica do Sport Clube do Porto, e delirava quando meu pai me levava a ver a luta livre. Por vezes a exaltação do público era tal que eu me encostava a meu pai cheio de medo. Pagava-se de entrada 1$50 a partir dos 6 anos. O aluguer das bicicletas pequenas custava 2$50 a hora. Enfim, era um paraíso desaparecido pela estupidez e ganância dos homens!



Blogues em destaque, caminho da Restauração ao Infante, via Foz






Desta vez, o excelente Portojofotos do bloguer Jorge Portojo, lança o convite para uma viagem pelo Porto, primeiro no Carmo e depois no de 500 até à Foz. Veja AQUI.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Era uma vez um saco






Poemas retirados do livro Ponto Final
Manuel Paulo

Era uma vez um saco


Sou saco perdido
no meio da estrada.
não sei se vazio
se cheio do nada.


Sou cabra
sou cobra
sou coroa de rei.
sou fada madrasta
nas teias da lei.


Sou puro
sou virgem
sou casto no lar,
sou bruto
sou bronco,
sou monstro
no mar.


Sou pajem,
sou prenda,
sou tenda
contigo.
Sou farsa
sou frágil,
sou falso
comigo.


Sou saco perdido
no meio da estrada,
não sei se vazio
se cheio do nada.


Sou belo,
sou crente,
sou ponte
do rio.
Sou luz e
sou fonte,
no meio do frio.

Sou filme,
sou vento,
se tento
lutar.
Sou palco,
sou cena
sou pena
a voar.

Sou cana
batida
pelo vento
de lado,
que goza
na vida
bocado
a bocado.


Sou saco perdido
no meio da estrada,
não sei se vazio
se cheio do nada.


Sou naco
de broa
na boca
do mundo,
palhaço,
cantor.
pastor,
vagabundo.


Sou prenda
embrulhada
em papel
de jornal.
Sou coisa,
sou loiça
sou simples
mortal.


Sou saco perdido
no meio da estrada,
não sei se vazio
se cheio do nada.


Mas parto
contente
de tudo
o que sou.


Não sei
se sou gente,
não sei
se sou crente,
não sei
donde venho
nem para
onde vou.




Mas sei
o que sou.

Um pouco
de ti.
um pouco
de mim.
um pouco
do outro
que por mim
passou.


Centenário da primeira representação do Bailado Petruchka de Igor Stravinsky (1882-1971).


Stravinsky e Nijiinsky 

No ano de 2011 celebram-se duas importantes efemérides musicais: o centenário da morte do grande compositor/maestro Gustav Mahler (7/7/1860 – 18/5/1911) e o segundo centenário do nascimento do compositor Franz Liszt (22/10/1811- 31/7/1886). Noutros posts abordaremos estas efemérides.
Hoje vamos dar a conhecer Igor Stravinsky (1882-1971), que compôs óperas, bailados, sinfonias, concertos, no centenário da primeira representação do seu Bailado Petruchka.

“Pétrouchka” ou “Petrushka”, estreado no Teatro do Châtelet, em Paris no Verão de 1911 pelos Ballets Russos de Sérgio de Diaguilev, é, sem sombra de dúvida, uma das obras-primas do século vinte.
Ao mesmo tempo, divertida, violenta e romântica, onde a pobreza convive com o brilho do ouro e o amor luta com as teias do ciúme, esta peça foi concebida com tal talento e maestria que delicia tanto os artistas que a interpretam como o público que a ela assiste.

Tudo faz sentido nessa dança “perfeita” saída do universo artístico e pessoal de Diaguilev, desde a comovente história aos magníficos cenários e figurinos (assinados por Alexandre Benois) passando, naturalmente, pela genial música de Igor Stravinski. A coreografia de Mikhail Fokine é uma pérola de rigor, beleza e modernidade – no início do século passado - juntando o teatro à dança, e muitos passos da escola clássica com habilidades circenses e danças de rua. Alternando cenas de multidão com outras que nos remetem para o pequeno, mas complexo, mundo dos três bonecos – decalcados dos “dom robertos” das antigas feiras russas – foi o talento de Diaguilev que juntou todos os criadores (de alto gabarito) de “Petruchka”, fazendo desta obra um sucesso imediato.

Petruchka dirigido pelo maestro Pierre Monteux e foi composto para os ballets de  Sergei Diaghilev. A coreografia desta estreia foi de Mikhail Fokine, e o principal intérprete foi Vaslav Nijinsky. Foi um êxito retumbante, o que em 1913 não viria a acontecer com a grande obra-prima A Sagração da Primavera.

Se houve quem afirmasse que Nijinski era inimitável no papel do pobre palhaço “Petrushka” - não se sabia se era um homem que imitava um boneco ou ser era uma marioneta que tinha adquirido alma humana”

Podem um resumo do argumento AQUI (escrito em Francês).

Poderão apreciar esta maravilha, com a duração total de 30 minutos.









Petrushka: Andris Liepa; The Ballerina: Tatiana Beletskaya; The Moor: Gedminas Taranda; Magician: Sergey Petukhov


Rui Cunha

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

O primeiro programa da Rádio Cultura no Ar



Uma cronica sobre o livro de George Steiner, "The New Yorker", escrita e narrada por João Pimenta. Um 'work in progress' que ainda pode sofrer ligeiras alterações.

Para ouvir entre AQUI ou através da foto.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

"Hoje roubei todas as rosas dos jardins e cheguei ao pé de ti de mãos vazias."







É Urgente o Amor.




Palavras Gastas 



Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes!
E eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.

Mas isso era no tempo dos segredos.
Era no tempo em que o teu corpo era um aquário.
Era no tempo em que os meus olhos
eram os tais peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco, mas é verdade:
uns olhos como todos os outros.

Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor...,
já não se passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.

Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.

Adeus

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Viagens para o mês de Fevereiro do Instituto Cultural D Antonio Ferreira

Lisboa: Dias 4 e 5 de Fevereiro de 2011





- Museu Nacional de Arte Antiga: visita à exposição "Primitivos Portugueses"
- Visita ao Palácio da Rainha (Antigo Mosteiro da Bemposta)
- Visita ao Palácio dos Marqueses de Fronteira
- Visita à Igreja de S. Domingos de Benfica
- Museu das Caldas da Rainha

Visita de estudo orientada pelo Prof. Doutor José Manuel Tedim
Inscrições abertas e limitadas



Oliveira de Azeméis, Dia 15 de Fevereiro de 2011



- Casa Museu e Biblioteca Ferreira de Castro em Oliveira de Azeméis
- Underground Museum – Museu   Berardo – Caves Aliança, Sangalhos

Visita de Estudo orientada pela
Profª. Doutora Isabel Ponce de Leão

Programa:                          
10h00 – Saída do Instituto com destino a Oliveira de Azeméis
11h00 – Visita guiada à Casa Museu e Biblioteca Ferreira de Castro
13h30 – Almoço nas Caves Aliança (Leitão à Bairrada)
15h30 – Sangalhos: visita guiada ao Underground Museum – Museu Berardo e às Caves Aliança
17h30 – Regresso ao Porto

(Durante a curta viagem alguns alunos apresentarão o resultado da sua investigação sobre o papel da emigração – um dos temas previstos no programa – na obra de Ferreira de Castro)

IMPORTÂNCIA



A importância da importância
De quem se julga importante
Está na importância que o Importante
Dá à sua importância.

Importa ao Importante
O grau de importância
Da sua importância.

Loco, o Importante
Importa importância importante
E exporta importância de menor importância

O Importante tenta tudo
Para obter saldo positivo
Da importância da sua importância.

E com este importa/exporta
Vai o Importante aumentando
A importância da sua importância.

O que importa ao Importante
E que a importância da sua importância
Seja cada vez mais importante.

E o resto...
Não interessa;
Não tem importância..

ML



Fair is foul, and foul is fair
Macbeth facto, Iª cena

Terão as bruxas razão?
No feio está o belo.
Por que não?
A beleza do horror incomoda fundo
Mas existe.
Os contrários não se opõem como parece
Também no ínfimo o infinito se encerra.
Tudo é parte deste todo que nos une.
Olho a sábia formiguinha
Que me enternece.
Completa na sua pequenez.
Os de uma só célula
São vida como nós.
E tudo o que me rodeia me deslumbra.

Raquel Paz

A PEDRA, Manuela Sottomayor





(Foto de Gérard Castello Lopes)

A PEDRA
A pedra impávida, rude, colossal,
 Introvertida, medieval! Dela se evola a quietude e a paz.
Sentimos que não pode ser mortal!
Quem nos dera a nós fazer o que ela faz!...

Permanecendo imutável através do tempo,
Não sofre nem faz sofrer ninguém.
Diz-me muito a mim quando a contemplo,
E o que diz não tem agrura, nem ódio, nem desdém


Manuela Sottomayor

O Alentejo – o meu “Sítio”...



Maria Tereza Ramalhão, 03 Junho 2008



Verão! Chegados ao Alentejo ficaram os espíritos deslumbrados e seduzidos.
O assombro, aumentou-o um poente doirado e tranquilo que sobre esta terra descia numa luz em declínio...

Estávamos no Alentejo. Paisagem larga e dilatada.
Vastidão tanto exterior, como interior.
Horizonte vasto. Corações imensos e limpos.

Depara-se-nos uma paisagem despojada. Uma natureza quase sem sobressaltos.
Um céu... onde o azul pontifica e se confunde com a linha perdida do horizonte.
A extensão do céu... abraça a extensão da terra.

Searas estendem-se como mosaicos, geometricamente ordenadas, num convívio pacífico com muros que quase não existem e com um arvoredo quase escasso.

Alongam-se as searas.
Exalam de dia perfuma doce e intenso. À noite, este perfume inebria. È quente, tão quente que parece saído das entranhas de uma terra que se abre e se oferece para que a sintam.
Acompanha-o ao perfuma, igualmente à noite, um silencio sonoroso e sedutor que nos envolve.
Este silencio, só o ouve quem se harmoniza com a tranquilidade daquele chão ao mesmo tempo suave e telúrico.
È a magia deste Alentejo, dos seus dias, das suas noites.
Aqui o coração, e até a solidão! se surpreendem... ora com o sol, ora com a lua!
Este é o meu sítio!
E é nestas noites majestosas, amplas de silencio, de simplicidade e de encanto, de cumplicidades, que as pessoas se sentem mais próximas. A conversa solta-se, as palavras correm com o silencio estendido... e os corações abrem-se, agora mais confiantes, neste sítio e neste tempo !
O Alentejo contagia-nos com a sua limpidez... a das almas, a da luz e a da noite.

Em dias de Verão pleno, de calor aceso e ar parado, sem bulício, os animais recolhem-se ao abrigo que só oliveiras e azinheiras protectoras concedem.
Na terra, as espigas já ceifadas e cansadas estendem-se, cumprida a sua missão.

A presença humana, neste Alentejo, a Natureza obriga-a à discrição.
Aparecem na terra e, em horas poucas, no refúgio fresco de pequenas vilas, de casas alvas, tão brancas que espelham a luminosidade dos dias e parecem arrumadas por um qualquer redemoinho de vento, persistente.

Poetas deixam-se inebriar por esta terra, ora de um verde tenro, ora áspera e agreste.
E cantam-lhe os homens e as mulheres, escuros no trajar mas de coração claro.
Cantam os seus cantares, o branco das casas/refúgio, a luz, a serenidade...



Pintores exaltariam esta paisagem.
Na sua paleta, o verde das árvores de tons vários, recortar-se-ia com o tom doirado das searas.
A tonalidade afogueada da terra alternaria com o vermelho ardente das auroras e dos poentes...
E o azul inconfundível do céu, a luminosidade estonteante do dia, deixo-os ao engenho e magia do pintor...

Estávamos no Alentejo. Terra de alento apesar da agrura. Terra de calma, contida.
A hora de partida haveria de chegar.
Iria deixar o tempo que ali corria alongado, sem pressa.
Deixava o meu Sítio!
Mas trouxe comigo a sua Serenidade... no coração.


quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Lourdes Costa e Cesário Guedes da Costa




Cesário Guedes da Costa e Lourdes Costa, alunos do Instituto Cultural D. António Ferreira Gomes, são dois artistas muito especiais que vale a pena conhecer. Antes da grande entrevista que estamos a preparar vamos conhecer alguma da sua produção.

Do livro de poemas “Lua enevoada” de Lurdes Costa escolhemos um poema

FOI A MÚSICA...

Ao longe, suave música escutava
E sentia não sei o quê dentro de mim.
Recordando a tua voz sonhava
E fiquei, quieta e muda, assim.

A melodia suave se elevava
Mas trepidante e banal se tornou enfim.
Com tristeza senti que já não lembrava
A tua voz terna falando para mim.

Calou-se de todo essa música que ouvia
E foi-se também a exaltação
Que durante um momento sentia.

Por instantes tive a sensação
Que te amava, desejava e queria
ler junto do meu teu coração.



Do livro Memorias da memória de Cesário Costa podemos ler no No prefácio, escrito pelo professor Helder Pacheco:

“Porque, no final das contas, o que Cesário Costa nos diz na simples história de um mundo com gente dentro é que, se quisermos salvar o essencial deste país agredido, teremos de começar de novo, reinventando as utopias, refazendo as cidades, redescobrindo a Natureza, reencontrando o olhar e os gestos essenciais. Para que não possa continuar a ser possível uma' realidade como a descrita nesta frase tão dolorosa quanto bela, rematando o livro com um soco na consciência (de quem ainda a tiver): «Os pampilhos amarelos que cobriam os campos que conheceste, prenunciando a Páscoa, foram substituídos por prédios...»”

Agora um excerto da Obra onde memoria de vida e a História de Portugal se entrecruzam na perfeição.

“Em 1958, trabalhava ainda na oficina da Rua de Entreparedes, decorreu a campanha para as eleições do novo Presidente da República. Concorriam três candidatos: General Humberto Delgado, o democrata Arlindo Vicente e o Almirante Américo Tomaz, conotado com o regime vigente. Um dia, quando saía do trabalho, havia burburinho na Praça da Batalha. As pessoas vinham a correr, esbaforidas, pelos lados da Rua de S. António (R. 31 de Janeiro) e dirigi-me para lá, para satisfazer a minha curiosidade. Ao chegar à Casa Janota, quase à entrada da Rua de Santa Catarina, estavam vários polícias. Um dos guardas, de c a s seteie na mão. não me deixou avançar mais: - Circula, circula! - gritava ele. Eu bem queria circular mas ele não deixou, empurrando-me para trás com o "chanfalho". Comecei a aperceber-me que algo de anormal se estava a passar, mas não percebia bem o quê. Via os cartazes colados na Messe dos Oficiais com a figura de Arlindo Vicente, mas só se ouvia falar em Humberto Delgado. Ouvi dizer que na Praça da Liberdade era um verdadeiro pandemónio. Fui pela Rua de Cimo de Vila abaixo. Rua do Loureiro e cheguei à Estação de S. Bento. Pude ainda ver o alvoroço: carros da Polícia com jactos de água para cima da multidão, pessoas a correr de um lado para outro e a serem perseguidas. Subi a Avenida da Ponte e tomei a camioneta na Rua de Saraiva de Carvalho.”

Sendo a produção literária apenas uma das actividades deste casal, vamos aguardar pelo testemunho em forma de entrevista para os conhecermos melhor. Para os espíritos mais curiosos podemos dizer que ambos usam o facebook para divulgar as suas produções e têm um site no youtube com video-poemas.


SINTOMAS E PROJECÇÕES, o vídeo



A exposição SINTOMAS E PROJECÇÕES, do professor Levi Guerra na Galeria do Palácio no Porto estará patente até ao próximo dia 23 de Janeiro. Para quem quiser ter uma ideia dos trabalhos antes de ir ver, fica aqui um vídeo realizado pela Oficina da Cultura no dia da inauguração.  



D. António Ferreira Gomes




Apontamentos Biográficos, um Texto de Levi Guerra

Nascido em Milhundos -Penafiel- a 10 de Maio de 1906, no seio duma respeitada família de agricultores, entra no Seminário aos dez anos, aos dezanove anos segue para Roma onde cursa filosofia e teologia na Pontifícia Universidade Gregoriana durante três anos, sendo ordenado presbítero aos vinte e dois anos. Ensina no Seminário de Vilar, onde vem a ser Reitor, até mil novecentos e quarenta e oito, altura em que, com quarenta e dois anos, é nomeado pelo Papa Pio XII Bispo titular de Rando, e é constituído Coadjutor, com direito a futura sucessão, de  D. Domingos Maria Frutuoso, Bispo de Portalegre. Ascende a Bispo de Portalegre depois de ano e meio, até que, cerca de três anos depois, é nomeado Bispo do Porto em cuja Diocese entra a 11 de Outubro de 1952, com quarenta e seis anos. Nos anos que se seguiram foi um bispo preocupado com a questão social portuguesa, apoiou empenhadamente o Movimento do Mundo Melhor lançado de Roma por Pio XII, e foi denunciando a política do Governo de então que nunca reconheceu como um rosto autêntico da doutrina social da Igreja iniciada pelo Papa Leão XIII (Encíclica Rerum Novarum) e depois por Pio XI (Encíclica Quadragésimo Anno). Na sequência das eleições para a Presidência da Republica em 1958, o Presidente do Conselho Doutor António de Oliveira Salazar convida-o, por interposta e conhecida pessoa, para uma entrevista que D. António aceita, em princípio, ao mesmo tempo que escreve uma "carta'', que designa de "pró-memória" onde esclarece o seu pensamento e os assuntos sobre que tem experiência e que toma como essenciais serem tratados. Esta "carta", divulgada a partir dos meios governamentais, serve para acusar D. António como promotor da sua divulgação, naturalmente aproveitada  pela Oposição.  Sobre este assunto escreveu D. António, em carta de 12.09.1958 ao Arquitecto Artur Vieira de Andrade - um dos chefes da campanha eleitoral do General Humberto Delgado: "Consta-me que corre por aí um papel impresso, sob o rótulo da passada campanha eleitoral, cuja autoria me é atribuída; não o conheço ainda, nem jamais dele tomarei conhecimento, porquanto liminarmente considero tal atentado, sem qualquer conhecimento ou permissão minha, como grave ofensa pessoal, além de criminoso abuso da imprensa".

Esta pró-memória é escrita em pleno período de grande turbulência política e vai terminar com o afastamento de D. António do País, exilado, a partir de 1959. Esse exílio durou até 1969, altura em que foi autorizado o seu ingresso ao País pelo chefe do governo de então, Doutor Marcelo Caetano. Durante o exílio permaneceu em Espanha, na Alemanha e, por fim, em França, além de ter longas permanências em Roma, onde foi participante activo no Concílio Ecuménico Vaticano II. Regressado à sua Diocese do Porto, sempre mantido como Titular da Diocese do Porto por Roma, desenvolve uma vasta acção pastoral de extraordinária notoriedade, fazendo da cultura o seu principal instrumento de ensino, dos seus sacerdotes, dos seus diocesanos e de todo o País, intervindo publicamente em sucessivas e oportunas tomadas de posição, em homilias - as homilias da Paz -, em entrevistas, em conferências e em livros: - Paz em Portugal pela reconciliação entre os portugueses; - Ministério Sacerdotal e sua renovação; A Igreja pós-conciliar; Paz da Vitória ou Paz da Justiça?; APaz depende de ti; Ecumenismo e Direitos do Homem na Tradição Antiga Portuguesa; Endireitai as Veredas do Senhor; Bater a penitência no peito dos outros? Entre as actividades pastorais salientam-se: a criação do Gabinete de Informação e Cooperação Social na Diocese, o Gabinete de Opinião Pública, a Comissão Diocesana Justiça e Paz, a reformulação do órgão oficioso da Diocese "Voz Portucalense", a criação da Junta de Coordenação Pastoral do Conselho Presbiteríal e do Conselho dos Leigos, a reforma dos Seminários, a criação do Instituto de Ciências Humanas e Teológicas, procedendo, ainda, ao reordenamento pastoral da Diocese e à reorganização do Cabido.

Eml980 é agraciado com a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade pelo Presidente da República Ramalho Eanes, e a 20 de Maio de 1982 é homenageado na Assembleia da República.
Em 12 de Março de 1981 solicitara a sua resignação como Bispo do Porto, de acordo com o estipulado no Código do Direito Canónico, pedido esse aceite "em princípio" a 8 de Maio seguinte, mas cujo efeito só viria a dar-se depois.

A 8 de Março de 1982, o Clero do Porto reuniu-se com D. António numa significativa "HOMENAGEM E DESPEDIDA". Em Abril desse mesmo ano, um grupo de leigos promoveu uma solene e honrosa Sessão Pública de Homenagem a D. António, no Palácio da Bolsa cujo Pátio das Nações se encheu e onde foi tirada a fotografia que aqui se inclui.

A 10 de Junho de 1982 despediu-se, por célebre carta, do Episcopado Português.

A 12 de Maio de 1982 retíra-se para a Quinta da Mão Poderosa, em Ermesinde, onde se vai entregar "ao muito que ainda tinha para fazer"e aos "outros e pessoais desafios que a vida de bispo lhe punha..". Foi então que escreveu o livro "Cartas ao Papa", finalmente traduzido em italiano e em francês, e onde D. António deixa a súmula do seu pensamento de homem da Igreja Católica e da cultura Nacional.

Veio a falecer, numa grande tranquilidade, e sempre consciente até ao fim, na madrugada do dia 13 de Abril de 1989.

Levi Guera in 'Fonte' nº1 (Revista do Instituto Cultural D. António Ferreira Gomes)

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Muitas viagens pelo Porto





Com as Contribuições do Rui Cunha e da Maria de Fátima Martins actualizamos a Lista de blogues que seguimos:

http://www.pbase.com/jandrade/ruas_do_porto
Um dos melhores blogs de fotos do Porto.

http://portonorte.blogspot.com/
Fotografias recentes da autoria de Francisco Oliveira.

http://ascasasdoporto.blogspot.com/
Há um património riquíssimo no Porto, entregue a si próprio: O casario antigo. Algum, ainda apresenta a dignidade de outrora.

http://dasmargensdorio.blogspot.com/
Olhar o mundo das margens deste rio como se o Mundo fosse este rio.

http://ruasdoporto.blogspot.com/
Fotos de ruas.

http://ssru.wordpress.com/
Blogue sobre a requalificação urbana da cidade.

http://amaroporto2.blogs.sapo.pt/
"Não há futuro sem memória. Sem enraizamento e sem memória, os povos, como os homens, são apenas náufragos." Manuel António Pina


Fotografias e postais do porto antigo e de todo o Portugal:

www.amen.no.sapo.pt
http://postaisportugal.canalblog.com/  :
http://www.prof2000.pt/users/avcultur/postais/Postais_ilustrados.htm

Fotografias recentes da autoria de Francisco Oliveira.

http://portonorte.blogspot.com/

"uma estátua colocada de castigo virada para a parede"



Um caso insólito relatado pelo blogue Porto Antigo.