quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

D. António Ferreira Gomes




Apontamentos Biográficos, um Texto de Levi Guerra

Nascido em Milhundos -Penafiel- a 10 de Maio de 1906, no seio duma respeitada família de agricultores, entra no Seminário aos dez anos, aos dezanove anos segue para Roma onde cursa filosofia e teologia na Pontifícia Universidade Gregoriana durante três anos, sendo ordenado presbítero aos vinte e dois anos. Ensina no Seminário de Vilar, onde vem a ser Reitor, até mil novecentos e quarenta e oito, altura em que, com quarenta e dois anos, é nomeado pelo Papa Pio XII Bispo titular de Rando, e é constituído Coadjutor, com direito a futura sucessão, de  D. Domingos Maria Frutuoso, Bispo de Portalegre. Ascende a Bispo de Portalegre depois de ano e meio, até que, cerca de três anos depois, é nomeado Bispo do Porto em cuja Diocese entra a 11 de Outubro de 1952, com quarenta e seis anos. Nos anos que se seguiram foi um bispo preocupado com a questão social portuguesa, apoiou empenhadamente o Movimento do Mundo Melhor lançado de Roma por Pio XII, e foi denunciando a política do Governo de então que nunca reconheceu como um rosto autêntico da doutrina social da Igreja iniciada pelo Papa Leão XIII (Encíclica Rerum Novarum) e depois por Pio XI (Encíclica Quadragésimo Anno). Na sequência das eleições para a Presidência da Republica em 1958, o Presidente do Conselho Doutor António de Oliveira Salazar convida-o, por interposta e conhecida pessoa, para uma entrevista que D. António aceita, em princípio, ao mesmo tempo que escreve uma "carta'', que designa de "pró-memória" onde esclarece o seu pensamento e os assuntos sobre que tem experiência e que toma como essenciais serem tratados. Esta "carta", divulgada a partir dos meios governamentais, serve para acusar D. António como promotor da sua divulgação, naturalmente aproveitada  pela Oposição.  Sobre este assunto escreveu D. António, em carta de 12.09.1958 ao Arquitecto Artur Vieira de Andrade - um dos chefes da campanha eleitoral do General Humberto Delgado: "Consta-me que corre por aí um papel impresso, sob o rótulo da passada campanha eleitoral, cuja autoria me é atribuída; não o conheço ainda, nem jamais dele tomarei conhecimento, porquanto liminarmente considero tal atentado, sem qualquer conhecimento ou permissão minha, como grave ofensa pessoal, além de criminoso abuso da imprensa".

Esta pró-memória é escrita em pleno período de grande turbulência política e vai terminar com o afastamento de D. António do País, exilado, a partir de 1959. Esse exílio durou até 1969, altura em que foi autorizado o seu ingresso ao País pelo chefe do governo de então, Doutor Marcelo Caetano. Durante o exílio permaneceu em Espanha, na Alemanha e, por fim, em França, além de ter longas permanências em Roma, onde foi participante activo no Concílio Ecuménico Vaticano II. Regressado à sua Diocese do Porto, sempre mantido como Titular da Diocese do Porto por Roma, desenvolve uma vasta acção pastoral de extraordinária notoriedade, fazendo da cultura o seu principal instrumento de ensino, dos seus sacerdotes, dos seus diocesanos e de todo o País, intervindo publicamente em sucessivas e oportunas tomadas de posição, em homilias - as homilias da Paz -, em entrevistas, em conferências e em livros: - Paz em Portugal pela reconciliação entre os portugueses; - Ministério Sacerdotal e sua renovação; A Igreja pós-conciliar; Paz da Vitória ou Paz da Justiça?; APaz depende de ti; Ecumenismo e Direitos do Homem na Tradição Antiga Portuguesa; Endireitai as Veredas do Senhor; Bater a penitência no peito dos outros? Entre as actividades pastorais salientam-se: a criação do Gabinete de Informação e Cooperação Social na Diocese, o Gabinete de Opinião Pública, a Comissão Diocesana Justiça e Paz, a reformulação do órgão oficioso da Diocese "Voz Portucalense", a criação da Junta de Coordenação Pastoral do Conselho Presbiteríal e do Conselho dos Leigos, a reforma dos Seminários, a criação do Instituto de Ciências Humanas e Teológicas, procedendo, ainda, ao reordenamento pastoral da Diocese e à reorganização do Cabido.

Eml980 é agraciado com a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade pelo Presidente da República Ramalho Eanes, e a 20 de Maio de 1982 é homenageado na Assembleia da República.
Em 12 de Março de 1981 solicitara a sua resignação como Bispo do Porto, de acordo com o estipulado no Código do Direito Canónico, pedido esse aceite "em princípio" a 8 de Maio seguinte, mas cujo efeito só viria a dar-se depois.

A 8 de Março de 1982, o Clero do Porto reuniu-se com D. António numa significativa "HOMENAGEM E DESPEDIDA". Em Abril desse mesmo ano, um grupo de leigos promoveu uma solene e honrosa Sessão Pública de Homenagem a D. António, no Palácio da Bolsa cujo Pátio das Nações se encheu e onde foi tirada a fotografia que aqui se inclui.

A 10 de Junho de 1982 despediu-se, por célebre carta, do Episcopado Português.

A 12 de Maio de 1982 retíra-se para a Quinta da Mão Poderosa, em Ermesinde, onde se vai entregar "ao muito que ainda tinha para fazer"e aos "outros e pessoais desafios que a vida de bispo lhe punha..". Foi então que escreveu o livro "Cartas ao Papa", finalmente traduzido em italiano e em francês, e onde D. António deixa a súmula do seu pensamento de homem da Igreja Católica e da cultura Nacional.

Veio a falecer, numa grande tranquilidade, e sempre consciente até ao fim, na madrugada do dia 13 de Abril de 1989.

Levi Guera in 'Fonte' nº1 (Revista do Instituto Cultural D. António Ferreira Gomes)

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