segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Um Haiku de Maria Aurora Pereira


Maria da Conceição Magalhães





A nossa entrevistada é médica. Foi a primeira Professora Catedrática da Faculdade de Medicina do Porto. Falar-se-á, nesta entrevista, de Maria da Conceição Magalhães e da sua viagem, sobretudo no agora e no futuro.
É um dos cinco filhos de uma família que, como o pai era militar de carreira, foi “peregrinando“ pelo país, mantendo-se, contudo, sempre unida. Aprendeu as primeiras letras no Porto, depois estudou em Braga mas terminou no Porto, licen­ciando-se na Faculdade de Medicina. Ti­nha sonhado com Cirurgia mas fez a sua iniciação em Endocrinologia. Talvez o encantamento pelo mundo maravilhoso do muito pequeno (celular ), já então vi­sível através do microscópio electrónico, e um outro encantamento- o noivo, logo marido- tê-la-ão feito deixar a prática da Medicina para se dedicar à investigação - em Biologia celular molecular.
“ O Outro “ parece ter norteado a sua vida : “o Outro” na escolha da profissão, a descoberta “ do Outro “ no gosto pela História , pelas via­gens; “o Outro” na preocupação com a juste­za/justiça imparcialidade e frontalidade nos seus comportamentos; ainda o “o Outro” no seu casamento com um colega, também emi­nente investigador e, dando-se um ao outro, amalgamaram-se, tornando-se uma unidade ( ela diz – “ Nós éramos um! “).
Gosta de desporto, em especial de futebol e, de modo ainda mais especial, do Benfica.

P. Diz-se que se conhecem os homens/ mulheres pelo que lêem. Julgamos que também pelas palavras que escrevem nos seus escritos, pelo que amam, pelo que os move, por aquilo de que têm medo… O que quer dizer-nos de si relativamente àqueles aspectos?
R. Sou uma leitora compulsiva. Dostoievski é um dos meus autores preferidos, talvez o que mais me marcou; também au­tores como Camus e alguns dos clássicos portugueses foram especiais. Hoje leio, principalmente, livros relacionados com História e com os problemas do mundo actual.
O que me move? A verdade; a verdade nas accões, nas rela­ções, nos discursos.

Detesto o compadrio, a parcialidade, a opressão. Aprecio a frontalidade.
Nos meus amores, a família tem um lugar muito especial.
Vejo com desagrado e preocupação alguns dos comportamen­tos da nova geração; por exemplo na mulher - demorou séculos a adquirir o estatuto de pessoa, a deixar de ser considerada ape­nas objecto mas parece que muitas jovens, actualmente, adop­tam, porque preferem, o estatuto de objecto; é uma regressão. Assusta-me também o uso insano de conhecimentos científicos e tecnologias; exemplo simples é o da aplicação da procriação medicamente assistida com escolha de características específi­cas para o bébé, ou o recurso a barrigas de aluguer como se de um saco apenas se tratasse.

P. O que é que a levou a fazer o curso de Medicina numa época em que tão poucas mulheres frequentavam esse curso?
R. Desde nova que tenho a pancada do “Outro”, a paixão do “Outro”, embora nem sempre seja fácil saber o que “isso é”. A escolha da Medicina foi nessa linha – ajudar, “salvar” o pacien­te. Acabei por optar por um caminho diferente, apaixonei-me pela investigação em Biologia celular-molecular e afastei-me do contacto directo com os doentes. Em nenhum momento se me pôs a questão de escolha enquanto mulher; as opções exis­tiam, era indiferente o género, quem fosse capaz agarrava-as. Para mim, nesse campo não era, nem é, diferente ser homem ou mulher.
P. Foi a primeira mulher Professora Catedrática na Faculdade de Medicina do Porto , num tempo em que essa área era um reduto de homens...Como viveu esse pioneirismo? Como vê as suas vivências na profissão à luz da história da evolução da situ­ação da mulher na sociedade portuguesa do séc.XX /XXI?
R. Sabe que não me considero uma pioneira? Nessa época, a sociedade já estava mais aberta e o meu profissionalismo e o meu temperamento fizeram com que não tivesse contestação no meu meio…Eu acho que a frontalidade gera admiração e amizade. Repare: na votação só tive bolas brancas, prova de que me aceitaram…O que me aconteceu foi a evolução natural na carreira; nunca senti nenhuma discriminação por ser mulher; a mulher, o que tem a fazer é: se lhe surgir uma oportunidade, agarrá-la, seguir o seu caminho com perseverança. E, se tiver um escudo invisível como eu tive, o meu marido, tanto melhor…

P.. Sabemos que gosta de viajar. O que procura quando viaja?
R. O prazer da descoberta, de conhecer outros povos, outros modos de ser e de viver. O meu gosto pela História é também responsável pelo meu interesse em viagens: conhecer “ in loco” lugares que, no passado, foram palco de grandes civilizações como a grega e a romana. A viagem que fiz à Grécia é um desses exemplos; foi com deleite que passeei por locais onde deambu­laram e discursaram Sócrates, Platão e outros.
Outra das minhas viagens que, para além de prazer e conheci­mento, me proporcionou vivências extraordinárias em termos dos contactos humanos foi a minha ida/ estadia em Paris, no inicio da minha carreira; convivi com pessoas de diferentes lu­gares, profissões, modos de estar na vida …Foi um ano muito marcante na minha vida.
P. Há muito que frequenta o ICDAFG. O que é que a trouxe? O que mais lhe agrada/ desagrada nesta Instituição? Que suges­tões propunha para que o ICDAFG fosse ainda mais dinâmico, com maior capacidade de enriquecer a vida dos seus alunos ?

R. Quando me reformei, abandonei, deliberadamente, o que me ligava à actividade profissional. Era altura de me dedicar a outras áreas do saber que me apaixonam, mas que negligenciara porque o meu envolvimento na profissão era pleno e intenso. Soube que este instituto tinha professores de grande qualidade que me poderiam ajudar a melhorar o conhecimento nos meus novos, velhos, interesses. Essa foi a principal razão da minha vinda; encontrei o que procurava. Além disso, entendo que o que o Instituto oferece preenche um leque muito diversificado.
Embora tenha alguma dificuldade em deslocar-me mais vezes ao ICDAFG, viria de bom grado e com regularidade, para participar em conferências sobre temas formativos em discus­são na actualidade, quer científicos quer de outra índole ( por exemplo: Geopolítica, Desenvolvimento Humano, Economia, História…)

P.• .Temos alguma curiosidade sobre o seu interesse pelo fu­tebol. Pode dizer-nos como nasceu e o que o alimenta?
R. Desde criança que gosto de desporto. Praticava Volei­bol e patinagem. O futebol foi surgindo; sou benfiquista desde que me conheço. Essa adesão não tem qualquer ligação com os meus familiares, talvez tenha acontecido por aquele clube ter uma grande base muito ligada a gente comum. Sigo com aten­ção a informação desportiva dizendo ou não respeito ao meu clube. É com muito prazer que vejo um bom jogo deste des­porto, mas deixei de ver os do Benfica porque o envolvimento emocional é muito grande.

P. • O importante para cada um de nós é o que ainda pode ser vivido - o futuro- . Quer falar de planos que tenha para o devir, de sonhos que ainda não concretizou?
R. Tenho sempre planos para o futuro. Neste momento, estou a reorganizar a minha biblioteca e isso vai ocupar-me durante um bom tempo. Entretanto, continuarei as minhas leituras e sempre que possível as viagens – gostaria de ir à Austrália, a Israel, ao Vietname…


John Milton Cage



O escritor, pintor e compositor norte-americano John Milton Cage Jr. (Los Angeles 1912-New York 1992) foi um inovador na arte da música.
”Deve-se-lhe uma nova maneira de “pensar a música”. As suas inovações remontam aos finais dos anos 30 quando ele integra na música elementos antes considerados ruídos” (Larouse)
Introduziu também aquilo que ele chamou de “música ao acaso”  e que Pierre Boullez, para não haver confusões com a sua, chamou de “música aleatória”.




Eu ouvi falar de John Cage devido à sua peça “4 minutos e 33 segundos”(1955), muito polémica pelo facto de os executantes deverem colocar-se no seu posto (orquestra, piano e maestro) fazer o  gesto de inicio da música, mas estar os 4m 33s. sem tocar qualquer nota!!! As pautas estão brancas à excepção das indicações dos 3 andamentos.
Abaixo incluo um exemplo dos “barulhos” e a divertidíssima peça indicada acima. Poderão ver que o maestro, pelo grande esforço que estava fazendo, até limpa o suar da testa.



Rui Cunha

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Visitas Culturais para o mês de Março no Instituto Cultural D. Antonio Ferreira Gomes





- Rabaçal (Penela): Vila Romana e Museu

- Santiago da Guarda (Ansião): Vila Romana

Mosteiro de Santa Clara-a-Velha

Dia 10 de Março de 2011

 Visita Cultural orientada pelo Prof. Doutor Armando Coelho

COMPLETA - Só se aceitam inscrições para suplentes





Coimbra - Mosteiro de Santa Clara-a-Nova. Mosteiro de Lorvão

Dia 19 de Março de 2011

Visita Cultural orientada pelo Prof. Doutor José Manuel Tedim

Inscrições abertas

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Kimi Skota







Uma nova estrela nasceu no mundo do canto. Foi descoberta na África do Sul pelo maestro André Rieu. Quando a ouviu disse que tinha encontrado ma pérola negra.
Muito iremos ouvir falar desta jovem cantora.
No endereço abaixo podereis ler uma pequena biografia de Kimi Skota AQUI e mais abaixo 3 maravilhosas canções.










Rui Cunha

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

António Rebordão Navarro


António Rebordão Navarro um programa de Maria d Fátima Martins para a Rádio Cultura no Ar, pode ser ouvido AQUI.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

2011 - Comemorações do segundo centenário do nascimento de Franz Liszt



Conforme afirmei no post de 4 de Janeiro, neste ano de 2011 comemora-se o segundo centenário do nascimento de Franz Liszt.

Liszt nasceu em Raiding, ao tempo pertencente ao Império Austro-Hungaro, hoje no leste do território Austríaco, junto à fronteira da Hungria. Na sua região o povo falava alemão e poucos conheciam a língua magiar. Baptizado Franciscus muito cedo mudou para o nome de Ferenc, mas os seus amigos tratavam-no por Franz, nome porque ficou conhecido na História da música.

Cedo descoberto, aos 9 anos, como uma promessa de excepcional pianista, foi aluno de Karl Czerny (1791-1857) e Antonio Salieri (1750-1825). Deu o seu primeiro concerto aos 11 anos, em Viena, que foi um sucesso estrondoso.
A família decidiu que deveria seguir para Paris, a capital das artes do tempo. Aí terminou os seus estudos com o grande professor Anton Reicha (1770-1836), também professor dos grandes Berlioz, Gounod et César Franck.
Rapidamente conquistou fama em vários países europeus.
Em Paris apaixonou-se pela condessa Marie d'Agoult (1805-1876), de quem teve 3 filhos. Decidiu então viajar, durante 10 anos, pela Europa dando concertos e compondo. Visitou 16 países entre os quais Portugal.
Foi durante estas viagens e noutras posteriores, que compôs 26 peças a que chamou “Anos de Peregrinação” nas quais incluía e recordava temas musicais das terras que visitava. Entretanto separou-se da condessa Marie d’Agoult.
Numa das suas visitas a Kiev, na Rússia, apaixonou-se pela princesa Carolyne von Sayn-Wittgenstein.
Instalou-se depois em Weimar (1848 a 1858) onde foi o chefe de orquestra da corte, e foi aí que teve como aluno o grande pianista português José Viana da Mota.
Durante este tempo, muito intenso, compôs as suas melhores obras para piano, para orquestra e corais sinfónicos. Depois de ter deixado a direcção da orquestra de Weimar recomeçou mais uns anos de “peregrinação”.
Recebeu, em 1865 as ordens menores, mas nunca foi ordenado Presbítero.
Era um homem insinuante e muito bondoso tendo ajudado e ensinado muitos músicos jovens no arranque das suas carreiras e integrando-os na sociedade onde era muito apreciado. Um destacado exemplo foi o de Chopin, que introduziu nos salões parisienses.
Faleceu em Bayreuth em 31 de Julho de 1886.

Como pianista foi, e ainda é, considerado um dos maiores virtuosos de todos os tempos, tendo elevado a arte do piano a níveis nunca antes imaginados.
Como compositor deixou uma obra muito extensa para piano, orquestra e corais de muitos géneros. Para piano deixou estudos, sonata em si menor, concertos, transcrições de obras de outros compositores, obras para 4 mãos e dois pianos, arranjos e outras…
Para orquestra e coros deixou um vastíssimo número de obras corais sacras e seculares (mais de 90), poemas sinfónicos, música de câmara, música para órgão, canções, e uma Ópera.
Deixou centenas de obras, mas infelizmente uma grande parte está esquecida.

SONATA EM SI MENOR: Para ilustrar esta efeméride escolhi a sonata em si menor dado ser, para meu gosto, a obra mais importante deste compositor. Dezenas de vezes a tenho ouvido e nela encontro sempre novidade e momentos deliciosos.
De Ernst Burger, biógrafo de Franz Liszt, retiro algumas ideias interessantes.
Curiosamente durante o séc. XIX esta obra foi por muitos rejeitada ou mesmo considerada inferior (ex. Clara Schumann, Brahms, o pianista e aluno Eugen  d’Albert etc.). Mas houve excepções muito honrosas como a de Richard Wagner que, a 5 de Abril de 1855, após a ter ouvido a Klindworth (outro aluno de Liszt) lhe escreveu ”Klindworth acabou de me tocar a grande sonata! (…) Caríssimo Franz! Tu estiveste nesse momento muito de mim. A sonata é indescritivelmente bela, grande, amável, profunda e nobre – sublime como tu. Ela tocou-me no mais profundo de mim próprio, e num instante esqueci toda a miséria de Londres”.
Só pelo sec. XX esta obra passou a ser executada em muitos concertos e Ernst Burger afirma mesmo que actualmente “ é a obra para piano mais vezes executada nas salas de concerto”.
Este autor afirma que “ a sonata em si menor, geralmente considerada como a sonata mais importante escrita após Beethoven, faz hoje parte do reportório de pianistas que ignoram praticamente o resto da obra de Lszt.”  
Richard Strauss declarou em 1948 a Wilhelm Kempff (grande pianista alemão que tive o privilégio de ouvir duas vezes) “Se Liszt não tivesse escrito senão a sonata em si menor, obra gigantesca saída de uma única célula, teria sido suficiente para demonstrar a força do seu espírito.”

O INTÉRPRETE – Das várias versões que tenho ouvido da sonata em si menor, foi a interpretação de Krystian Zimerman a que mais me agradou, por isso a escolhi para ilustrar este poster.
Krystian Zimerman, nascido em Zabrze (Polónia) em 5/12/1956, fez o seu curso no Conservatório de Katowice sob a orientação de Andrzej Jasinski.
Em 1975, com 19 anos, venceu o Concurso Internacional de Piano Frederick Chopin de Varsóvia, considerado um dos mais importantes do mundo para este instrumento.
É actualmente considerado um dos maiores intérpretes de música romântica.

E agora deliciemo-nos com a audição desta maravilhosa sonata em si menor.











Rui Cunha

João Villaret e Amália Rodrigues






















João Villaret foi um grande actor e um inigualável declamador, que enchia salas de espectáculos declamando poesia e falando de poetas, sem nunca olhar para um papel. Também na RTP teve um programa de grande sucesso.


Morreu no dia 21 de Janeiro, há 50 anos.

Alguém se lembrou de criar ESTE SITE dedicado a ele. Conta ainda com pouca coisa, mas que merece ser visitado e, claro, ouvido. Sugiro, para começar, alguns curtinhos. Mas, claro, ouvi-los todos é fantástico.

- Adivinha
- Balada da neve
- Fado falado
- Liberdade
- O menino de sua mãe
e muitos outros…
um recorde nacional em qualquer tipo de espectáculo.


Em homenagem à Amália Rodrigues 10 anos após o seu falecimento… foi criado ESTE SITE onde podemos encontrar todas as canções e os respectivos vídeos... uma relíquia a guardar!

Rui Cunha


segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Cesário Guedes da Costa e Lourdes Costa a entrevista



Hoje publicamos a entrevista a Cesário e Lourdes Costa, duas vidas na cultura, dois exemplos de vitalidade. Para ouvir AQUI
.

Portugal dos pequenitos e não só...

Portugal dos pequenitos e não só 
Por Isabel Pissarro



No dia 15 de Janeiro de 2011, o Prof. Doutor José Manuel Tedim orientou mais uma visita de estudo, desta vez ao “Portugal dos Pequenitos”, ao Mosteiro de Santa Clara -a- Velha, em Coimbra e a Tentúgal para ver a Igreja Matriz e a da Misericórdia. Nesta viagem eram convidados especiais os netos dos “alunos”; alguns estiveram presentes e sugeriram, no final, que, numa próxima vez, não se visitassem tantas igrejas!
Começou-se pelo “Portugal do Pequenitos”.
O “Portugal do Pequenitos” é um espaço Vivo de Cultura e faz parte do nosso Património; procurou retratar, à época da sua construção, Portugal e a sua presença no mundo. É um par­que lúdico-pedagógico destinado a ensinar às crianças o que é Portugal e tem também interesse turístico. Foi idealizado por Bissaya Barreto, projectado pelo arquitecto Cassiano Branco e inaugurado em 8 de Junho de 1940. O conjunto actual não corresponde a um projecto homogéneo, foi crescendo ao longo dos anos. Representa, de forma pormenorizada e numa escala reduzida, um grande número de aspectos da Arquitectura e da História de Portugal (desde Monumentos, Casas Regionais e Museus a representações etnográficas das ex-possessões portuguesas além-mar, do Brasil e da Índia). O Parque é propriedade da Fundação Bissaya Barreto, instituição que desenvolve activi­dades nas áreas da Educação, da Cultura e da Assistência Social.



Em seguida, fizemos a visita ao Convento de Santa Clara-a-Velha. Fundado nos finais do séc. XIII, o Convento inseriu-se num contexto religioso que havia sido renovado pelos ideais de S. Francisco de Assis e de Santa Clara, fundadores das Ordens Franciscanas. Partiu da abadessa Dona Mor Dias que, tocada pelo apelo da forma de vida proposta por Santa Clara, resolveu fundar uma casa de Clarissas; ofereceu, para isso, um terreno na margem esquerda do rio Mondego bem perto do Convento Franciscano. Em 13 de Abril de 1283, Dona Mor Dias (então recolhida num Mosteiro de Santa Clara já existente), obteve licença para construir um mosteiro dedicado a Santa Clara e Santa Isabel da Hungria. O património doado para o novo mosteiro veio a ser disputado pelos cónegos do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra nascendo, assim, um conflito que cul­minou com a extinção do mosteiro de Dona Mor, em 1311. A Rainha D. Isabel de Aragão empenhou-se na sua refundação, o que viria a ocorrer em 1314. A partir daí, a rainha afectará a ele muito do seu tempo e do seu património. A obra ficará a cargo de Domingos Dominguês (mestre do Claustro do Silêncio, de Alcobaça) e, posteriormente, de Estêvão Domingues, a quem coube a conclusão da Igreja e construção dos Claustros1. Este claustro destaca-se no panorama nacional pela sua grandiosida­de, sendo o maior em estilo gótico. Junto ao Mosteiro, a Rainha mandou construir um Hospital para pobres, com cemitério e capela, bem como um espaço onde mais tarde viverão D. Pedro e D. Inês2. A Igreja foi sagrada em 1330. Logo no ano seguinte sofreu com uma cheia do rio Mondego. Foi o prenúncio de uma tumultuosa convivência com as águas daquele rio; a intru­são cíclica desse elemento no mosteiro implicou, ao longo dos séculos, sucessivas adaptações do edifício – foi-se alteando o piso térreo. No início do séc. XVII, as freiras viram-se forçadas a construir um andar superior e, ao longo do tempo, a desocupar o anterior, o que sucedeu, também, com outras dependências monásticas. As condições de habitabilidade viriam a tornar-se insuportáveis, obrigando a comunidade a erguer um novo edifício no vizinho Monte da Esperança – o Mosteiro de Santa Clara-a-Nova. O antigo mosteiro, abandonado em 1677, pas­sou a ser conhecido por Santa Clara-a-Velha. Após o abandono pela comunidade religiosa, mosteiro e cerca deram lugar a uma exploração agrícola, sendo a parte superior do templo transfor­mada em habitação, palheiro e currais. Classificado como Mo­numento Nacional em 1910 e sujeito a obras de restauro pelo Estado português3, o mosteiro manteve-se, no entanto, à mercê das águas do rio. Entre 1995 e 2000, no âmbito da valorização do Monumento, uma vasta campanha arqueológica, condicio­nada por uma constante bombagem das águas, pôs a descober­to uma enorme quantidade de espólio, testemunho material do passado conventual. O projecto de valorização do antigo mos­teiro, lançado em 2004, integrou a concepção de um edifício destinado a albergar o centro interpretativo do local.
Já em Tentúgal, tiveram lugar o almoço, num espaço muito agradável, e a visita às Igrejas Matriz e da Misericórdia acompa­nhados pelo presidente da Confraria dos Doces Conventuais de Tentúgal que contou histórias sobre a sua terra.
Finalmente, o regresso ao Porto.

Agradecemos, penhorados, ao Prof. Tedim, e manifestamos-lhe o interesse nestas pequenas viagens, de um dia, pois propi­ciam um melhor conhecimento do nosso património cultural. Prometemos-lhe nunca mais esquecer que o dia 15 de Janeiro é o dia de Santo Amaro, o Santo reverenciado na sua terra -S. Ma­mede do Coronado-, Santo que cura ossos e dor de cotovelo!

1. Os claustros eram abastecidos, por um cano, com a água vinda da Quinta do Pombal (actual Quinta das Lágrimas)
2.Local da execução de D. Inês, em 1355
3.A partir da década de 1930

Redescobrir São João da Madeira, numa visita guiada




São João da Madeira foi para muitos de nós, os mais velhos, e durante muito tempo, uma ponto no percurso Por­to - Lisboa que era obrigatório e difícil atravessar; pouco mais – centro produtor de chapéus, zona de produção de sapatos e tinha a Oliva. Então, uma viagem cultural a tal sítio parecia ca­recer de interesse. Puro engano. Ideias preconcebidas e falta de curiosidade levam, quase sempre, a decisões incorrectas.
A ida a São João da Madeira mostrou que esta cidade, não sendo já e felizmente para os sanjoanenses um ponto da trajec­tória Porto – Lisboa, é uma terra com muitos encantos; pos­sivelmente sempre o terá sido, mas agora foram valorizados e desabrocharam. É, hoje, uma cidade moderna. Conserva o seu tradicional pólo industrial (excepção feita à metalomecânica) mas abriu-se ao turismo e aumentou a oferta cultural. Conti­nua o interesse pela fabricação de sapatos e nesse sentido criou um moderno Centro de Formação Tecnológica da Indústria do Calçado, que dinamiza e dá apoio à formação em tal área.
Ainda mantém a fabricação de chapéus mas, porque tal aces­sório é hoje dispensável, não podendo privilegiar-se a produção e, muito justificadamente, não querendo esquecer o honroso passado nesta área de produção, organizou um Museu para registar memórias, pondo-as ao serviço de todos - o Museu da Chapelaria : este equipamento onde se expõe o percurso da feitura do chapéu (com a orientação de uma elegante, eficien­te e “charmosa” senhora quase se vêem máquinas a funcionar, produzindo bonitos e duráveis chapéus) não é só um registo, um memorial, pois dispõe de espaços para fruição quer de uma simples refeição, quer de vivência de outros momentos culturalmente mais significativos.
Também a Viarco continua lá e a fazer lápis; mas não só. Com as velhas máquinas, no velho edifício, um jovem e dinâmico gestor tenta mostrar que nem os trapos são velhos; modernizou a oferta, produzindo, por sugestão do pintor José Emídio , um produto novo e competitivo - a aguarela de grafite. E faz muito mais, tira partido do património industrial de outros tempos, partilhando-o com quem se interessa por estas coisas, qual museu vivo onde é possível ver cada passo da preparação dos produtos, novos e velhos, contactar com matérias-primas e má­quinas e tirar dúvidas, levantar problemas. Revive-se o passado, vive-se o agora, procura-se um futuro melhor.
Mas se estas três indústrias representam a continuação de um tempo passado, embora numa perspectiva actual, outras, novas e diferentes, nasceram voltadas para o que se pensa ser impres­cindível no futuro, e é comum designar-se por novas tecnolo­gias. Assim, num edifício, construído de raiz, a condizer com a modernidade de produtos para o futuro, centraliza-se e vive-se o apoio a estas novas empresas (pequenas e médias) no deno­minado Centro Empresarial Tecnológico.
A antiga vila, ponto de passagem mas centro industrial, con­tinua centro industrial, já não é mero ponto de passagem e cresceu, modernizou-se; o tempo passou também para ela mas não envelheceu, antes se tornou nova; rejuvenesceu mais orga­nizada, dinâmica, cheia de ideias que vai concretizando graças a gente activa e interessante. Tratou do que ia ficando velho e se justificava recuperar (palacetes …), reenquadrou e planificou espaços naturais (rio Ul …) e outros, construiu ou aproveitou equipamentos que pôs ao serviço da cultura, tornou a cidade mais viva, mais apetecível, mais saudável. E as suas gentes? San­joanenses ou não recebem e acarinham os turistas, proporcio­nando-lhes lazer, divertimento, conhecimento, arte … enfim, cultura.
Voltando ao ponto de partida - as ideias preconcebidas e a falta de curiosidade são incompatíveis com o progresso, com o saber e até com a simples fruição de minutos agradáveis e diferentes. A mim iam-me fazendo perder uma “visita cultural” dinâmica, diversificada e muito cheia de bons momentos.

Rua dos Clérigos em 1908




No excelente blog MONUMENTOS DESAPARECIDOS, encontrei uma fotografia que, pessoalmente, muito me diz. Vê-se a Rua dos Clérigos engalanada esperando a passagem do Rei D. Manuel II que acabava de chegar ao Porto em visita oficial. À direita vemos a casa Á Noiva onde em 1893, com 12 anos, o meu avô paterno Francisco da Silva Cunha entrou como moço de recados, ao tempo chamado marçano, e onde foi desempenhando de forma brilhante a sua profissão. Ascendeu a empregado de balcão, pondo gravata como era de tradição, e mais tarde a gerente da loja.

Nesse tempo os empregados viviam na própria casa dos patrões, habitualmente no último andar onde se encontrava a cozinha e os quartos das criadas e dos empregados.

Tendo-se apaixonado pela Menina Luiza, filha do Sr. Alves, o patrão, decidiu sair e lançar a sua própria casa de Retalho em 1903. Deu conhecimento disso ao Sr. Alves, que aceitou e apoiou, pois via no seu gerente um homem sério e trabalhador. Foi assim que, em 1903, fundou no nº. 54 daquela Rua o ESPELHO DA MODA.
Prometeu ao Sr. Alves que, assim que lhe apresentasse dois balanços com lucros suficientes para manter a sua casa, lhe iria pedir a mão da menina Luiza. Em 1905 casou com a minha avó, vindo a ter 3 filhos.
Por alturas desta fotografia o ESPELHO DA MODA tinha 5 anos e não é visível por se encontrar tapado pelo eléctrico.

Uma curiosidade é verificar-se que nesse tempo, à inglesa, ainda se circulava pela esquerda, e só em 1928 o código o obrigou a mudar para o sistema continental de circulação pela direita.

Rui Cunha


um desenho de José Manuel Taborda Tavares




Grafite s/Papel
29x21 cm


Filme: O Porto no início do século XX






Encontrei no Youtube esta preciosidade. Filme do Porto e do Minho com cerca de 100 anos.

Foi-me especialmente grato rever tantas coisas que ainda vivi! Os trabalhados jugos dos bois ramaldeiros, as mulheres com rodilhas à cabeça, a nora a que chamam de “curiosa” máquina de tirar água dos poços, os maravilhosos trajes das minhotas a dobar o linho e a fiar e fazer meias. Na venda das castanhas a tecnologia pouco ou nada evoluiu.
Reconheci o muro dos bacalhoeiros com casas à sua frente, Miragaia em tão mau estado!

Rui Cunha

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Catarse, Maria Estefânia Marques




CATARSE

O tempo vai passando
e avivando
memórias de outro tempo.
E normal.
Há, no entanto,
uma memória que me falta.
A memória de ti,
Pai que não conheci.
Digamos que me falta
uma referência,
as coordenadas de um ponto,
no sistema de eixos
que me equilibra a vida.
Vejo-te nas fotografias.
Pergunto como eras...
"Bonito, sensível, encantador"
respondem.
Sei que herdei de ti
a paixão pelas flores
e sei que te fiz zangar
uma só vez:
quando arranquei, um a um,
os botõezinhos do vaso de
gerânios.
Mas não tenho memória
das tuas mãos
fazendo-me um carinho;
da tua voz, chamando o meu nome.
E, no entanto, lá estou eu no retrato
sentada no teu colo,
com dois laçarotes no cabelo!...
Porque é que não recordo
a tua voz?
Porque é que não recordo
o teu olhai?
Porque é que o tempo
não abranda esta mágoa
e, pelo contrário, a faz agudizar?
Pai que não recordo!
Sinto que um dia
nos vamos encontrar.


Maria Estefânia Marques

Um ponto, Maria Laura Giesteira Faro-Barros




UM PONTO
- Sou um ser humano.
- Resuma!
- Sou mulher.
- Reduza-se à sua expressão mais simples.
- Sou um ponto (.)

Mas muitos pontos unidos
Fazem linhas
Que fazem superfícies,
Que fazem volumes,
Que fazem o Mundo e a Vida!



Maria Laura Giesteira Faro-Barros

Olhos nos Olhos, Maria Manuela Sottomayor




Olhos nos Olhos

Deixa-me brincar com as tuas mãos Olhos nos olhos ... Como crianças ou jovens namorados Que afagam a areia da praia junto ao mar, Inocentes, serenos, deslumbrados.
Deixa-me brincar com as tuas mãos
Olhos nos olhos.
Alheados do tempo que passa e do enlouquecido frémito do mundo
Inventaremos juntos gestos lassos
Que terão o sabor terno e doce dos abraços.
Deixa-me brincar com as tuas mãos
Olhos nos olhos.
Como um duende e uma fada,
Que inebriados na branda luz da madrugada,
Sem palavras, nem ânsias, nem a inquietude da paixão,
Se amam para além de todo o pensamento e de toda a razão.
Deixa-me brincar com as tuas mãos Olhos nos olhos
Porque este olhar, longo e fundo, que atinge o âmago do ser Faz-nos rever nossa vida por inteiro
E descobrir um amor que, brotando como água de caudalosa nascente, E já um tanto diferente do primeiro. Mais vasto, mais caloroso, mais denso, mais envolvente. Ainda, como outrora, vivo, esperançoso, arrebatado, profundo, infindável, Mas agora mais enternecido, gratuito, despojado; Mais consolador, mais cheio de gratidão, de intimidade, de desvelo e, 
[finalmente, de perdão.

Maria Manuela Sottomayor