segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Catarse, Maria Estefânia Marques




CATARSE

O tempo vai passando
e avivando
memórias de outro tempo.
E normal.
Há, no entanto,
uma memória que me falta.
A memória de ti,
Pai que não conheci.
Digamos que me falta
uma referência,
as coordenadas de um ponto,
no sistema de eixos
que me equilibra a vida.
Vejo-te nas fotografias.
Pergunto como eras...
"Bonito, sensível, encantador"
respondem.
Sei que herdei de ti
a paixão pelas flores
e sei que te fiz zangar
uma só vez:
quando arranquei, um a um,
os botõezinhos do vaso de
gerânios.
Mas não tenho memória
das tuas mãos
fazendo-me um carinho;
da tua voz, chamando o meu nome.
E, no entanto, lá estou eu no retrato
sentada no teu colo,
com dois laçarotes no cabelo!...
Porque é que não recordo
a tua voz?
Porque é que não recordo
o teu olhai?
Porque é que o tempo
não abranda esta mágoa
e, pelo contrário, a faz agudizar?
Pai que não recordo!
Sinto que um dia
nos vamos encontrar.


Maria Estefânia Marques

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