segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Portugal dos pequenitos e não só...

Portugal dos pequenitos e não só 
Por Isabel Pissarro



No dia 15 de Janeiro de 2011, o Prof. Doutor José Manuel Tedim orientou mais uma visita de estudo, desta vez ao “Portugal dos Pequenitos”, ao Mosteiro de Santa Clara -a- Velha, em Coimbra e a Tentúgal para ver a Igreja Matriz e a da Misericórdia. Nesta viagem eram convidados especiais os netos dos “alunos”; alguns estiveram presentes e sugeriram, no final, que, numa próxima vez, não se visitassem tantas igrejas!
Começou-se pelo “Portugal do Pequenitos”.
O “Portugal do Pequenitos” é um espaço Vivo de Cultura e faz parte do nosso Património; procurou retratar, à época da sua construção, Portugal e a sua presença no mundo. É um par­que lúdico-pedagógico destinado a ensinar às crianças o que é Portugal e tem também interesse turístico. Foi idealizado por Bissaya Barreto, projectado pelo arquitecto Cassiano Branco e inaugurado em 8 de Junho de 1940. O conjunto actual não corresponde a um projecto homogéneo, foi crescendo ao longo dos anos. Representa, de forma pormenorizada e numa escala reduzida, um grande número de aspectos da Arquitectura e da História de Portugal (desde Monumentos, Casas Regionais e Museus a representações etnográficas das ex-possessões portuguesas além-mar, do Brasil e da Índia). O Parque é propriedade da Fundação Bissaya Barreto, instituição que desenvolve activi­dades nas áreas da Educação, da Cultura e da Assistência Social.



Em seguida, fizemos a visita ao Convento de Santa Clara-a-Velha. Fundado nos finais do séc. XIII, o Convento inseriu-se num contexto religioso que havia sido renovado pelos ideais de S. Francisco de Assis e de Santa Clara, fundadores das Ordens Franciscanas. Partiu da abadessa Dona Mor Dias que, tocada pelo apelo da forma de vida proposta por Santa Clara, resolveu fundar uma casa de Clarissas; ofereceu, para isso, um terreno na margem esquerda do rio Mondego bem perto do Convento Franciscano. Em 13 de Abril de 1283, Dona Mor Dias (então recolhida num Mosteiro de Santa Clara já existente), obteve licença para construir um mosteiro dedicado a Santa Clara e Santa Isabel da Hungria. O património doado para o novo mosteiro veio a ser disputado pelos cónegos do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra nascendo, assim, um conflito que cul­minou com a extinção do mosteiro de Dona Mor, em 1311. A Rainha D. Isabel de Aragão empenhou-se na sua refundação, o que viria a ocorrer em 1314. A partir daí, a rainha afectará a ele muito do seu tempo e do seu património. A obra ficará a cargo de Domingos Dominguês (mestre do Claustro do Silêncio, de Alcobaça) e, posteriormente, de Estêvão Domingues, a quem coube a conclusão da Igreja e construção dos Claustros1. Este claustro destaca-se no panorama nacional pela sua grandiosida­de, sendo o maior em estilo gótico. Junto ao Mosteiro, a Rainha mandou construir um Hospital para pobres, com cemitério e capela, bem como um espaço onde mais tarde viverão D. Pedro e D. Inês2. A Igreja foi sagrada em 1330. Logo no ano seguinte sofreu com uma cheia do rio Mondego. Foi o prenúncio de uma tumultuosa convivência com as águas daquele rio; a intru­são cíclica desse elemento no mosteiro implicou, ao longo dos séculos, sucessivas adaptações do edifício – foi-se alteando o piso térreo. No início do séc. XVII, as freiras viram-se forçadas a construir um andar superior e, ao longo do tempo, a desocupar o anterior, o que sucedeu, também, com outras dependências monásticas. As condições de habitabilidade viriam a tornar-se insuportáveis, obrigando a comunidade a erguer um novo edifício no vizinho Monte da Esperança – o Mosteiro de Santa Clara-a-Nova. O antigo mosteiro, abandonado em 1677, pas­sou a ser conhecido por Santa Clara-a-Velha. Após o abandono pela comunidade religiosa, mosteiro e cerca deram lugar a uma exploração agrícola, sendo a parte superior do templo transfor­mada em habitação, palheiro e currais. Classificado como Mo­numento Nacional em 1910 e sujeito a obras de restauro pelo Estado português3, o mosteiro manteve-se, no entanto, à mercê das águas do rio. Entre 1995 e 2000, no âmbito da valorização do Monumento, uma vasta campanha arqueológica, condicio­nada por uma constante bombagem das águas, pôs a descober­to uma enorme quantidade de espólio, testemunho material do passado conventual. O projecto de valorização do antigo mos­teiro, lançado em 2004, integrou a concepção de um edifício destinado a albergar o centro interpretativo do local.
Já em Tentúgal, tiveram lugar o almoço, num espaço muito agradável, e a visita às Igrejas Matriz e da Misericórdia acompa­nhados pelo presidente da Confraria dos Doces Conventuais de Tentúgal que contou histórias sobre a sua terra.
Finalmente, o regresso ao Porto.

Agradecemos, penhorados, ao Prof. Tedim, e manifestamos-lhe o interesse nestas pequenas viagens, de um dia, pois propi­ciam um melhor conhecimento do nosso património cultural. Prometemos-lhe nunca mais esquecer que o dia 15 de Janeiro é o dia de Santo Amaro, o Santo reverenciado na sua terra -S. Ma­mede do Coronado-, Santo que cura ossos e dor de cotovelo!

1. Os claustros eram abastecidos, por um cano, com a água vinda da Quinta do Pombal (actual Quinta das Lágrimas)
2.Local da execução de D. Inês, em 1355
3.A partir da década de 1930

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