segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Redescobrir São João da Madeira, numa visita guiada




São João da Madeira foi para muitos de nós, os mais velhos, e durante muito tempo, uma ponto no percurso Por­to - Lisboa que era obrigatório e difícil atravessar; pouco mais – centro produtor de chapéus, zona de produção de sapatos e tinha a Oliva. Então, uma viagem cultural a tal sítio parecia ca­recer de interesse. Puro engano. Ideias preconcebidas e falta de curiosidade levam, quase sempre, a decisões incorrectas.
A ida a São João da Madeira mostrou que esta cidade, não sendo já e felizmente para os sanjoanenses um ponto da trajec­tória Porto – Lisboa, é uma terra com muitos encantos; pos­sivelmente sempre o terá sido, mas agora foram valorizados e desabrocharam. É, hoje, uma cidade moderna. Conserva o seu tradicional pólo industrial (excepção feita à metalomecânica) mas abriu-se ao turismo e aumentou a oferta cultural. Conti­nua o interesse pela fabricação de sapatos e nesse sentido criou um moderno Centro de Formação Tecnológica da Indústria do Calçado, que dinamiza e dá apoio à formação em tal área.
Ainda mantém a fabricação de chapéus mas, porque tal aces­sório é hoje dispensável, não podendo privilegiar-se a produção e, muito justificadamente, não querendo esquecer o honroso passado nesta área de produção, organizou um Museu para registar memórias, pondo-as ao serviço de todos - o Museu da Chapelaria : este equipamento onde se expõe o percurso da feitura do chapéu (com a orientação de uma elegante, eficien­te e “charmosa” senhora quase se vêem máquinas a funcionar, produzindo bonitos e duráveis chapéus) não é só um registo, um memorial, pois dispõe de espaços para fruição quer de uma simples refeição, quer de vivência de outros momentos culturalmente mais significativos.
Também a Viarco continua lá e a fazer lápis; mas não só. Com as velhas máquinas, no velho edifício, um jovem e dinâmico gestor tenta mostrar que nem os trapos são velhos; modernizou a oferta, produzindo, por sugestão do pintor José Emídio , um produto novo e competitivo - a aguarela de grafite. E faz muito mais, tira partido do património industrial de outros tempos, partilhando-o com quem se interessa por estas coisas, qual museu vivo onde é possível ver cada passo da preparação dos produtos, novos e velhos, contactar com matérias-primas e má­quinas e tirar dúvidas, levantar problemas. Revive-se o passado, vive-se o agora, procura-se um futuro melhor.
Mas se estas três indústrias representam a continuação de um tempo passado, embora numa perspectiva actual, outras, novas e diferentes, nasceram voltadas para o que se pensa ser impres­cindível no futuro, e é comum designar-se por novas tecnolo­gias. Assim, num edifício, construído de raiz, a condizer com a modernidade de produtos para o futuro, centraliza-se e vive-se o apoio a estas novas empresas (pequenas e médias) no deno­minado Centro Empresarial Tecnológico.
A antiga vila, ponto de passagem mas centro industrial, con­tinua centro industrial, já não é mero ponto de passagem e cresceu, modernizou-se; o tempo passou também para ela mas não envelheceu, antes se tornou nova; rejuvenesceu mais orga­nizada, dinâmica, cheia de ideias que vai concretizando graças a gente activa e interessante. Tratou do que ia ficando velho e se justificava recuperar (palacetes …), reenquadrou e planificou espaços naturais (rio Ul …) e outros, construiu ou aproveitou equipamentos que pôs ao serviço da cultura, tornou a cidade mais viva, mais apetecível, mais saudável. E as suas gentes? San­joanenses ou não recebem e acarinham os turistas, proporcio­nando-lhes lazer, divertimento, conhecimento, arte … enfim, cultura.
Voltando ao ponto de partida - as ideias preconcebidas e a falta de curiosidade são incompatíveis com o progresso, com o saber e até com a simples fruição de minutos agradáveis e diferentes. A mim iam-me fazendo perder uma “visita cultural” dinâmica, diversificada e muito cheia de bons momentos.

Sem comentários:

Enviar um comentário