quinta-feira, 9 de junho de 2011

De olhos bem abertos e Que digo eu? de Manuel Paulo


De olhos bem abertos

Porque hoje é sábado
parei a pensar o que hoje pensei.
E entendi.

Em A Rebelião das Massas, José Ortega e Gasset afirmava:
” Surpreender-se, estranhar, é começar a entender.” E mais adiante:
“Tudo no mundo é estranho e é maravilhoso para um par de pupilas bem abertas.”


Que digo eu?

Tantas vezes
às escuras,
de olhos fechados,
olhei os comboios passar.
E só,
só os ouvia a apitar.
Sem origem, sem paragem,
sem destino
afundavam a minha solidão.
Até que um Pombo Correio
me trouxe a solução.
Já te aconteceu?
Olha que a mim também!

E porque hoje é sábado,
parei a pensar n´aquele Pombo Correio…

Põe de lado
o bocado que resta
da tua tristeza.

Dá um murro na mesa.

Espreita a janela
e vê como é bela
a lua nascer.

Liberta o teu pombo correio.
Deixa que leve
o saco cheio
da tua mágoa,
do teu paleio,
do teu receio
de ser como és.

Troca o que diz toda a gente
p´lo que em ti é diferente.

Abraça o que ama,
acolhe o que chama,
anima quem clama
um mundo melhor.

Deixa a paixão apanhar-te.
Constrói um sonho por dia.

Coloca de parte
quem queira tirar-te
a tua alegria.

Faz do viver uma arte,
da festa folia,
do carinho estandarte,
do só companhia.

No dia seguinte
serás o pedinte
mais rico e ditoso
do teu quarteirão.

Dirão que és tonto.

Dirão que és conto
de outra novela.
Ficção, fantasia,
capricho, utopia,
cavalo selvagem
sem rédea nem sela.

Que o sonho sem trela
é sonho que acaba
como apaga uma vela.

Mas deixa falar.

Como queres ser lembrado?

Como alguém cumpridor
que sempre disse “ámen”
ao seu senhor?

Ou como alguém sonhador
que deixou um projecto profundo
que mudou o Mundo?”

Pombo Correio in Ponto Final

Manuel Paulo

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