segunda-feira, 4 de julho de 2011

Brasil, um poema de Aureliano da Fonseca



Brasil

É terra de samba? Não, embora o dance.
Ê terra de novelas? Não, embora as faça.
É terra de Carnaval? Não, embora o possua.
Ê terra de marginais? Não, embora os padeça.
Terra de mil povos que, misturados,
num só se transformaram - o povo brasileiro.
E é terra de gente que, sabendo pensar o que deseja e quer
tem possibilidades de realizar e reproduzir.
Também onde muito se estuda em todos os campos do saber
cada um desejando ser o melhor onde esteja.
E sendo terra quente, nela também há frio.

A despeito disto e de muito mais, o Brasil é:
terra onde se diz ser Deus brasileiro, porque nela
tem Belém e outra terra igual não fez.
E terra de promessas, viveiro de juventude,
mundo da alegria, gente de esperança, povo generoso.
Terra de poetas, músicos e cantores.
Terra de miscigenação, onde as raças se ligam
pelo corpo e pelo espírito,
milagre de novos modelos humanos.
Terra onde a Natureza é pródiga, tudo tendo e tudo produzindo, mas,
onde, por vezes, do muito que tem ou pode ter, muito falta.
Terra onde, se a vida é dura, certo é ter sido pelos duros que o Brasil se fez,
mas, para outros, a ser mole, porque, "se a vida pode ser fácil, porque a tornar difícil ?"
Terra onde o momento de há pouco já está para ontem e, pelo momento de amanhã, só é preciso
esperar, porque ele virá !
Terra onde não se desespera o que o homem não pode fazer,
mas se espera com paciência porque o que deve vir virá !
Terra onde a Fé, por vezes misturada confusa, é, todavia, Fé.
Terra onde todo aquele que a pisa e nela permanece logo é tido como brasileiro, ainda que acorda
pele, dos olhos e dos cabelos, como o feitio das órbitas lhe dê estigma de origem estranha e distante.
Terra de diversas Terras, iguais no que as distingue, no lugar e duna como nos hábitos e tradições e
em todo o modo de estar, como em tudo que vive e se agita.
Terra de confins, onde o longe está lá, e a estar porque é distante, e o perto pelos de longe espera !
Terra onde os mortos, umas vezes, são sepultados com cantares alegres; e os vivos, outras vezes,
vivem ao som de cantares nostálgicos de dor ou de saudade.
Terra onde, se os brancos mandam,
aos negros é devido o carácter que o Brasil possui
a distingui-lo pelo mundo além.
Terra de paradoxos, onde tudo é possível, como o imprevisível e
Assim é o Brasil.

Aureliano da Fonseca, Professor Catedrático Jubilado da Faculdade de Medicina do Porto
in Fonte nº4





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