segunda-feira, 30 de abril de 2012

O rim artificial. Uma história de afetos.


A apresentação do livro “O rim artificial. Uma história de afetos “da autoria de Margarida Negrais, Levi Guerra e José Emídio realiza-se no Sábado, 19 de Maio, às 16h00, no Centro de Cultura e Congressos da Secção Regional Norte da Ordem dos Médicos, Rua Delfim Maia, 405, Porto (à Arca D´Água
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Para adquirir este livro contacte guimatos@hotmail.com 

sexta-feira, 27 de abril de 2012

4º Momento ICAFG: A Arte Como Fonte de Alegria.


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4º Momento ICAFG: A Arte Como Fonte de Alegria.

Dia 9 de Maio de 2012 das 16h45  às 18h45na  Fundação Eng. António de Almeida

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Programa
16h45 - Abertura
Oradores: Prof. José Manuel Tedim e Prof. Levi Guerra
Moderados por: Luís Saraiva

Temas:
1. O belo está nos olhos de quem vê.
2. A fruição da obra de arte como fonte e fruto da Alegria.
3. A arte como estimulante da Alegria.
4. A arte como evocação do repositório da memória.

17h45 - Momento Musical – Carlos Semedo (Guitarra Portuguesa)
18h00 -  Reflexão aberta e conclusões por: Margarida Negrais e Teresa Barbosa
18h45 - Fecho

Sujeito a Inscrição na secretaria do Instituto Cultural D. António Ferreira Gomes. Telefone  226102831


Itenerário do Bonfim: Visita Cultural orientada pelo Dr. Helder Pacheco





Dia 19 de Maio de 2012
Partida às 14h30 horas da Biblioteca Pública


ITINERÁRIO DO BONFIM

Visita Cultural orientada pelo Dr. Helder Pacheco


Programa:

S. Lázaro
Rua de S. Victor
Largo Baltazar Guedes
Prado do Repouso
Rua Duque de Saldanha
Largo Júlio Dinis
Campo 24 de Agosto
Avenida Camilo
Igreja do Bonfim
Eirinhas
Guelas de Pau
Rua Bataria
Póvoa de Cima
Santo Isidro
Monte dos Congregados
Rua da Alegria
Marquês de Pombal

Inscrições abertas na Secretaria do ICAFG

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Visita Cultural ao Parque Arqueológico do Vale do Côa

Dias 17 e 18 de Maio de 2012
PARQUE ARQUEOLÓGICO DO VALE DO CÔA
Visita Cultural orientada pelo Prof. Doutor Armando Coelho



Programa
Dia 17 de Maio (5ª. feira)
Saída do Instituto às 08h00
- Arte Rupestre no Vale do Côa; Museu e Campo.
Núcleo de gravuras a visitar: Penascosa (implica a caminhada de, aproximadamente, 200 metro sem terreno plano).
Local de Comparência: Centro de Recepção, localizado na aldeia de Castelo Melhor(situada a 14 kms de Vila Nova de Foz Côa, direcção Figueira de Castelo Rodrigo, Almeida, Vilar Formoso).
Início das visitas: 14h00,14h15 e 14h30
Duração de cada visita: Aproximadamente 1h30m.
Conselhos Úteis:
Durante a visita aconselhamos o uso de roupa e calçado confortáveis.
No Verão chapéu, água e protector solar. No Inverno impermeável (dado que não é permitido o uso de guarda-chuva durante a visita).
Alojamento e pequeno almoço no Hotel do Vale do Côa.


Inscrições abertas na Secretaria do ICAFG

terça-feira, 24 de abril de 2012

Momentos ICAFG - Os textos, parte 3


Durante os momentos ICAFG, a professora Margarida Negrais (da Unidade de Escrita Criativa), lançou várias sugestões para produção de textos alusivos ao tema da alegria, na Rádio, na Literatura e no Cinema. Do conjunto de textos recebidos, hoje vamos publicar um poema e uma prosa da aluna Isabel Sousa Ribeiro.





Um mal nunca vem só


  Camila bateu com a porta, furiosa. Cá fora sempre se respirava um ar menos bafiento. Desceu a calçada correndo em passo miúdo, retirando de dentro da blusa o comprido colar que tinha comprado às escondidas da irmã, na última vez que tinha ido ao Porto.
Desta vez ela havia de se arrepender da sua mania de comandar as tropas lá em casa: era um autêntico comandante desde que o pai morrera.
Já para o fim da vida, era com grande esforço que o pai as levava ao Clube ou a algum serão em casa dos poucos amigos que tinha, na esperança de casar pelo menos Teodora, de feitio muito parecido com a tia que morrera solteirona.
 Não houve pretendente que se chegasse nem a uma nem a outra! Também não admirava, severo como era, não as deixava pôr um pouco de ruge ou de batom, muito menos usar um lenço mais vistoso, por achar que esses artifícios eram para “aquelas senhoras”; as pobres meninas andavam vestidas como se fossem noviças, sem graça nenhuma.
Quanto aos rapazes, esses fugiam todos para a cidade, para tomarem conta dos negócios dos pais. Uma vez lá, num ambiente todo virado para as novidades, era difícil terem vontade de voltar para a província, muito menos pretendiam tão cedo casar.
Quando o pai morreu, Teodora, a mais velha, tomou para si a responsabilidade dos pertences da família, como se tudo tivesse surgido por obra e graça do seu esforço, como se tudo fosse seu. Possuía uma voz possante, o cabelo apanhado em puxo largo, peito empinado com decotes subidos de peitilhos de renda.
 Em trombone, mandava em toda a gente, esticava a sua mão gorda, apontava o dedo de anel de uma pérola só, regendo a criadagem, para cima e para baixo, na quinta, na casa e na cozinha! Sempre de mau humor, lamentava sozinha, pelos cantos, a sua má sorte de ter ficado solteira. Mas pensando melhor, não era agora , de rédeas na mão, que estava para aturar um marido!

O comboio apitava já na curva do rio, ainda dava tempo a Camila para o apanhar na estação mais lá abaixo, que, com o início da primavera, enchia os seus canteiros de flores.
O vento fresco batia-lhe na face e fazer-lhe-ia esvoaçar os cabelos se já os tivesse cortado à “garçonnette”, como se usava na cidade. Aos poucos se iria transformar numa dessas mulheres modernas que vinham na revista “Modes et Travaux”que tinha comprado no mês anterior. A irmã iria ver quem mandava nela!
O comboio serpenteava ao longo do rio. Encostando languidamente a cabeça no vidro da janela, Camila olhava nas águas calmas o reflexo das vinhas da paisagem, ia dormitando embalada pelo andamento lento do trem. Entre o dormir e o acordada, ouviu um marulhar de vozes masculinas que a despertaram dos seus pensamentos sobre nada.
A boa disposição inundava a carruagem de vida e de alegria; os rapazes, ou melhor, os homens, vestiam desportivamente, um ou outro trazendo a bolsa da raquete de ténis na mão. Assobiavam e cantavam, o que diziam ser a novidade passada na rádio nos últimos dias. Camila não resistiu, batendo as palmas no fim da canção. Logo um deles tirou o chapéu e lhe fez uma grande vénia. Ela riu… era bem apessoado!
Continuando nos seus pensamentos, Camila decretou que já estava farta de tocar as mesmas peças de Mozart, todos os dias, ao cair da tarde de bordados e cochichos com as amigas. Tomou uma decisão: saiu do comboio, subiu a rua 31 de Janeiro até à casa das músicas do sr. Moreira. Por muita sorte encontrou o que queria, a editora Sasseti tinha mandado para o Porto alguns exemplares.
Camila comprou a partitura e enfiou-a na bolsa grande  que levava sempre que ia à cidade e foi tomar um chá à Brasileira,  antes de se decidir a ser “garçonnette”.
Enquanto segurava a chávena, com dois dedos e o mindinho espetado, como mandava a etiqueta, deu uma vista de olhos pela partitura: verificou que lhe seria difícil acertar nos tempos da canção e jogar o piano com a letra. Mas tudo há-de ter uma solução! Foi então que lhe surgiu finalmente uma brilhante ideia: comprar uma telefonia! O pessoal da rádio, com certeza tinha contratado os artistas espanhóis para repetirem o show por vários dias! Ouvindo muitas vezes, já conseguiria tocar e cantar a “lindíssima Amapola”e quem sabe, chegar às falas com aquele que a saudou com o chapéu, lá no comboio.
Camila pagou o chá, verificou se o dinheiro que tinha trazido do seu mealheiro secreto era suficiente e decidiu atravessar a Praça até à rua do Almada. Encontrou logo a loja com o artigo  que queria. Discutiu a qualidade do receptor, o tamanho e o preço, tratando também que lhe arranjassem um moço de fretes, que estivesse às cinco horas na estação com a encomenda.
Desceu um pouco a rua e parou hipnotizada em frente de um novo cabeleireiro, cheio de fotografias da Greta Garbo, que parecia ter saído de uma revista de Paris! Entrou cautelosamente, mas logo pediu que lhe cortassem o cabelo à “garçonne”, enquanto lhe pintavam as unhas e a boca de vermelho.
Foi um instante! Clientes tão corajosas havia poucas! Saltou toda contente da cadeira. Verificou outra vez o dinheiro. Estava tudo a correr como o previsto.
 Ao sair da porta, olhou para os lados para ter a certeza que ninguém estava a vê-la, enrolou duas vezes a saia na cintura, ficando com os joelhos à mostra, prontinha para ir comprar uns sapatos de tira, de salto alto. Respirou fundo!
 Quem dera que no comboio fossem os mesmos passageiros da vinda! - pensou.
Estava com fome, mas agora não convinha estragar a pintura e também já não tinha muito tempo, mesmo porque tinha de andar mais devagar não fosse o salto enfiar-se nalgum buraco da calçada e partir-se em dois.
Já estava na hora da partida. À porta da primeira carruagem estava o moço à sua espera com a telefonia embrulhada em papel grosso, atado com um cordel, à maneira de mala com pega.
- Ó rapaz, não me deixes cair a encomenda!
- Não se exalte a senhora que isto está bem amarrado.
Exaltada estava realmente a Camila, que não via os fanfarrões ali por  perto.
A viagem correu sem graça nenhuma, o rapaz a dormitar, ela a engendrar a melhor maneira de meter em casa o embrulho sem a irmã saber. Nestes pensamentos e com a lentidão da marcha, e apesar dos apitos do comboio, Camila ia deixando passar a estação onde devia sair. Foi aos tropeções, entre as gigas vazias que as lavradeiras tinham deixado perto da porta, que saltou do comboio levando a reboque o moço estremunhado.
Pelo caminho, antes de chegar a casa, ainda ouviu uns assobios do rapaz da bicicleta, que levava a mercearia a casa dos clientes ricos. Este incidente fez com que começasse a ferver por dentro, ainda por cima, os sapatos começavam a magoar-lhe atrás, no calcanhar.
 Remexeu na bolsa, procurou bem no fundo, de um lado e do outro e não encontrava a chave que tinha surripiado no dia anterior à noite. Já nervosa, tocou com toda a força a sineta do portão, começando logo os cães a ladrar que chatice! Camila começou a remoer impropérios. E se a irmã ouvisse?! Os Impropérios e a sineta?! - pensou.
O portão abriu-se num repente e o rapaz, encostado e distraído, desequilibrou-se e caiu no chão, agarrado ao embrulho, protegendo a encomenda como se fosse um tesouro. Por sorte andava por ali o caseiro que atendeu à porta. Mas a paz não durou muito, não durou mesmo nada! Ao entrar pela cozinha e despachado o moço, pé ante pé, Camila carregando a telefonia, seguiu em direcção à salinha…
- Mas que pouca vergonha vem a ser esta?! - gritou Teodora, surgindo grande e medonha por detrás do cortinado, do fundo do corredor.
- Aaa?! Pouca vergonha?
- Que trazes aí embrulhado?! Que andaste a comprar sem minha ordem?! Com que dinheiro?!
 Camila, furiosa, para responder à irmã, exibe o sapato batendo com o pé no chão.
- Ai, que me dá o chilique! Tenho uma “daquelas” em minha casa! – Dizendo isto, Teodora, que se tinha encostado à parede com o choque do que estava a ver, deslizou devagarinho e caiu redonda no chão.
Aos gritos de Camila logo acorreu a criadagem, dando os sais a cheirar à desmaiada que, arrebitando com tão eficaz tratamento, continuou a discussão, voltando à carga;
Que trazeis aí nesse embrulho? (Do resto conversamos depois). Dizei-me? Onde andastes a gastar o nosso dinheiro? – Em ocasiões como estas gostava de falar mais caro, para dar respeito à situação.
- É uma telefonia. – diz já calmamente Camila, pensando adocicar a irmã com os modos e com a rádio.
- Uma te-le-fo-ni-a?! Estais doida ou quê?!
- É para ouvirmos as notícias… o que se passa no mundo…
- São só lutas e guerras…E saber disso é bom?! Mais vale estarmos na ignorância dessas coisas. – retorquiu Teodora.
- Ah! Mas tu não sabes?! E a Música?! Os melhores cantores dão shows nos estúdios da rádio e tu podes , ao mesmo tempo, ouvi-los na minha telefonia.
- Eu já disse que não  quero nada disso aqui nesta casa!
- Olha, até podes aprender uma música que eu ouvi cantar no comboio, até já comprei a partitura… chama-se “Amapola”
- Deixe cá ver isso! – Teodora arranca dos braços da irmã a telefonia, vai para a desembrulhar com as suas mãos sapudas, (tão diferentes das delicadas da irmã) e ninguém percebeu como, meio papel posto, meio papel tirado, desliza o aparelho como numa corrente de ar,  pela janela fora, indo parar aos pés do finguelinhas , moço de recados, que se deitara na eira a dormitar, à espera da hora do comboio que o levasse outra vez para o Porto.
- Com este outro susto é capaz o rapaz não escapar! – exclamou Camila incrédula.
Vão as irmãs a correr, mais as criadas ajudar o que afinal de rapaz era um menino, de tão magrinho que era. O sabido abriu um olho só, a ver a situação, percebendo que meio morto seria a solução: teria uma boa refeição, dormiria em bom colchão.
Desfeita vai para casa, Camila pela verdura: já descalçara os sapatos, a saia tinha descido e esborratara-se-lhe o batom… desgrenhada é que não estava, com o seu novo corte à “garçon”.
Teodora, à sua frente, transportava debaixo do sovaco, os restos do desembrulhado rádio, o fio arrastando sinuosas lagartixas no chão. Desapareceu atrás da cortina, do corredor que conduzia às saletas e aos quartos.
Abatida, Camila aspirou o perfume das rosas que trepavam para a janela. Sentou-se ao piano. Puxou a sua bolsa grande, pegou na partitura que tinha comprado no Porto e quando se preparava para tocar, começou a ouvir trautear a “lindíssima Amapola”! Primeiro ao longe, depois mais perto…
- Seria o rapaz do comboio que lhe invadira a quinta, para lhe fazer uma serenata? – pensou suspirando. O coração batia-lhe no peito, na boca, nos ouvidos… correu à janela de mãos estendidas de alegria… Surpreendeu-a a quietude que reinava no jardim.
A música agora mais alta, ia enchendo o corredor até transbordar na sala… “Amapola, lindíssima Amapola, não sejas tão ingrata …” e Teodora, que vinha a empurrar aqueles sons todos, com a sua figura gigantesca , berrou com a sua voz de trombone:
- Não tem serventia nenhuma, mas já está! Já funciona! Eu bem dizia que devia ter nascido homem!

                                                                                                                                            Isabel Sousa Ribeiro
11/04/12

Momentos ICAFG - Os textos, parte 2


Durante os momentos ICAFG, a professora Margarida Negrais (da Unidade de Escrita Criativa), lançou várias sugestões para produção de textos alusivos ao tema da alegria, na Rádio, na Literatura e no Cinema. Do conjunto de textos recebidos, hoje vamos publicar um poema e uma prosa da aluna Fátima Miranda.


“O menino sentava-se inteiro … e a sua alegria despedia todos os raios”
       
Guimarães Rosa 



Ainda sou hoje aquela menina inteira?...
Olho a menina do retrato. Retratinho pequeno, a preto e branco, tirado no jardim, junto ao arbusto.
Vestidinho que piqué branco, com florinhas bordadas, a saia rodada. Os soquetes a condizer nas sandálias claras.
O laço. O laço grande e vistoso nos cabelos. Laço de seda branca a coroar a cabecinha da menina.
O que resta em mim da menina que eu olho?
O que ficou desse tempo sem horas em que não havia “margens” para a alegria e  todos os sonhos estavam ainda por imaginar?
Onde terá ficado o sorriso límpido, o olhar de cristal, o coração de vidro sempre a transbordar?
Onde terão ficado os olhos de estrelas abertos para a beleza e para a descoberta?
Onde estarão guardadas as histórias encantadas com que a mãe me adormecia todas as noites?
Onde dormirão os meus heróis de papel que alimentavam a minha fantasia?
Onde terá ficado a menina do retrato? A menina inteira. “Inteiramente” inteira?...
Um pedacinho do seu coração foi semeado pelas esquinas da vida.
Porém, às vezes, por breves momentos, por breves e raros momentos, a menina volta “inteira” a espreitar à janela.
      Março de 2012  
Fátima Miranda. 

sábado, 21 de abril de 2012

Momentos ICAFG - Os textos, parte 1



Durante os momentos ICAFG, a professora Margarida Negrais (da Unidade de Escrita Criativa), lançou várias sugestões para produção de textos alusivos ao tema da alegria, na Rádio, na Literatura e no Cinema. Do conjunto de textos recebidos, hoje vamos publicar um poema e uma prosa da aluna Ângela Amaral.






SIM OU NÃO, EIS A QUESTÃO

Fim de tarde. Uma mosca zunia…zunia …descontrolada contra a vidraça. Um raio de sol, teimoso, enfiava-se pela fresta da pesada portada da janela. Os vidros, as porcelanas azuis, os arrebiques dourados das chávenas, ganhavam outro brilho no alto do louceiro que, estoicamente, acompanhava várias gerações.

          -Ó Mana, não vale a pena aborrecermo-nos por causa disto! -dizia a Cremilda do alto dos seus botins já cambados e do meio do babado das rendas do vestido de azul desbotado.
         -Pois é. Uma telefonia para quê? Estamos tão sossegadas assim. Precisamos de nos incomodar com a vida dos outros, com as desgraças alheias? Quem não ouve, não peca. E eu a poupar nos gastos da casa e vamos agora metermo-nos nisso? Vê-se bem que não tens governo! Até nem precisavas de usar em casa esse vestido! Julgas que estas modernices te ajudam a arranjar marido? –não se cansava de barafustar a Emerenciana ,aconchegando melhor as pontas do xaile de lã e ajeitando a almofada de seda  que persistia em lhe desamparar as costas.
         -Não ofendas! Eu sei que tenho quase quarenta anos mas tu até me levas a dianteira. Enquanto há vida , há esperança, já dizia a nossa avó. Olha que as tuas rezas, horas  a fio no oratório também não te têm ajudado. E já para não falar na tua casmurrice. Então havemos de morrer estúpidas, sem saber o que se passa no mundo? O mundo não é só Leirós ou a Quinta do Chão! E na nossa condição! Até hão-de pensar que estamos com necessidades. Pensa bem. Vê se não tenho razão.

Cremilda abeirou-se da janela. Lá fora, o sol rasava as últimas lajes da eira. O espigueiro, já na sombra, a abarrotar de trigo, dava-lhe razão e força. O custo da telefonia era a semente lançada no campo da aventura, da imaginação, do mundo com que sempre sonhara.
Emerenciana denunciava o que lhe ia na alma abanando a cabeça, em silêncio, repetidamente…Que ideia!...Que ideia!...





ALEGRIA EM CONSTRUÇÃO


É o triunfo do choro da criança
que em exultação de alma grita:
“Aqui estou!”

É o sorriso alegre
que alegra o coração da mãe
que, jubilosa , o contempla.

É o levantar os olhos
acima das casas cinzentas
e além do negrume do horizonte.

É a esperança renovada e ardente
que alenta a alma
na subida íngreme e tortuosa
do caminho da vida.

É o andamento vivo de alegro,
incontido pela emoção de um aplauso,
de um reencontro.

É a lágrima que se solta
em  torrentes de contentamento,
no atropelo de risos incontidos.

É o” valeu a pena”
porque
uma alegria nunca vem só.


Ângela Amaral


sexta-feira, 20 de abril de 2012

As Margens da Alegria - O filme dos "Momentos"





Este é o vídeo dos Momentos ICAFG.


Com base na estória de João Guimarães Rosa, “As Margens da Alegria”, o prof. José Alves Pires sj, apresentou a primeira sessão dedicada à literatura. No 2º Momento - o do Cinema - foi convidado o Prof. Horst Bergmeier e o escritor Miguel Miranda. E para terminar, A Rádio enquanto Fonte de Alegria, com Olga Cardoso - Amiga Olga (R. Renascença) e António Jorge (Antena 1) deram o seu testemunho.

 

A reflexão aberta e as conclusões foram conduzidas pelas professoras do ICAFG Margarida Negrais e Teresa Barbosa. A moderação esteve a cargo do prof. Luís Saraiva e os Momentos Musicais foram programados pelo Prof. Luís Meireles do Conservatório de Música do Porto.

segunda-feira, 16 de abril de 2012

O boletim do ICAFG

 

Download do numero 18 do Boletim AQUI.


Viagens, entrevistas, artigos e muito mais.

Aprender a Olhar para lá do Visivel.



Continuamos, com perseverança e prazer, a viagem pela Arte Contemporânea. O prazer, neste caso, deve-se muito aos excelentes "guias" que nos apoiaram ( o saudoso Dr. Paulo Reis) e apoiam - a Doutora Fátima Lambert (com quem tudo começou) e o Doutor Eduardo Paz Barroso que, felizmente, também aceitou o desafio de nos orientar. Aquela " viagem" tem como centro de apoio o ICAFG, mas passa por muitos luga -res. Recentemente, os lugares foram Museu de Serralves e MAC em Santiago de Compostela. Aí visitámos, sob a orientação preciosa e eficiente do nosso professor , Doutor Eduardo Paz Barroso, as exposições de fotografia dos artistas Thomas Struth (no Museu de Serralves) e Jeff Wall ( no MAC). São duas exposições excelentes. Não fora o apoio do nosso professor não atingiríamos o sig -nificado de cada obra / artista e, possivelmente, não irí amos além do aspecto estético que a observação, mesmo que atenta, nos provocaria.

Qualquer obra de arte contemporânea implica um discurso sobre ela e, portanto, desde que a fotografia adquiriu, merecidamente, o estatuto de arte não prescinde, também, desse apoio da palavra, de um mediador escla -recido entre o observador e a obra. A fotografia enquanto obra de arte não obedece aos critérios da fotografia documental; deixa de ter como preocupação dominante gravar, captar um instante de um espaço . O que se vê sem se conhecer o pensamento do artista, carece de sentido.

Por tal, ir ao Museu com um professor é indispensável e é também um privilégio de que temos usufruído. Assim foi naquelas duas visitas – admirámos as fotografias, compreendemos os seus "como" e os "porquês", reconhecemos-lhe as subtilezas e, como deve ser, ficou-se com vontade de saber mais porque continuamos ignorantes , mas curiosos!

Thomas Struth e de Jeff Wall são dois grandes artistas contemporâneos que recorrem à fotografia para se expressarem; ambos fazem fotografias espantosas, recorrem a grandes formatos, mas como artistas pouco mais têm em comum; as suas obras pretendem coisas diversas, são pensadas de forma muito diferente. Em Jeff Wall o que vemos é ficção, são imagens plausíveis, mas ficcionadas. Cada imagem exposta no museu resul-tou da combinação de muitas fotografias, segundo um plano prévio. O seu objectivo é pictural, recorre à má-quina e à combinação (agora) digital como o pintor recorre aos pincéis e tintas. E, como muitos deles desde a época clássica, ficciona a paisagem… e não só. O resultado é inusitado mas espantoso, provoca em nós uma instabilidade geradora da necessidade de olhar de novo, de procurar o que causa perplexidade. Apercebemo-nos, por vezes, da suspensão do tempo em que "(…) um instante se torna espessura ontológica (…)"! Valeu a pena ver. Vale a pena ver de novo.

 


 

Thomas Struth não é pictural . As suas fotografias são belíssimas mesmo ignorando o que ele pre-tende dizer. Vimos (…) "fotos a preto e branco de várias cidades do mundo, retratos de família e impressões a cor em grande escala, tanto de selvas e florestas como de museus, catedrais e templos " (…) e os organizadores da exposição afirmaram que ela (…) " revela a forma como o artista vê o mundo, em toda a sua complexidade, constituindo um retrato do mundo actual, nas suas várias perspectiva" (…). As fotos a preto e branco que vimos correspondem a uma série de fotografias de rua despidas de gente. Foram tiradas segundo uma perspectiva central, o que lhe confere monumentalidade e mistério e nos compele a mergulhar na fotografia procurando o detalhe. Para ir para além do evidente foi preciso conhecer o pensamento do artista para esta série: nesta fase centrava-se em – porque tal cidade é assim? Que influência recíproca entre tais lugares e indivíduo, colectivo, ideologias, …? – Por isto, para ele, a cada uma das fotografias desta série correspondem os espaços físicos específicos representados, mas também espaços mentais … cada uma daquelas imagens é, de modo implícito, um manancial de informações.

Também espectaculares são as fotos coloridas. Uma das séries foi tirada em museus, quer só a visitantes quer a visitantes perante obras de arte consideradas icónicas pela sociedade contemporânea. Em cada uma dessas fotos o artista (…)" "traça" uma linha histórica que transcende todos os que vivem naqueles instantes "(…) Ele mesmo diz :" Quero conduzir juntos o tempo da pintura ( fotografada) e o tempo do observador " .

Valeu a pena ver e vale a pena ver de novo. Foram momentos de algum encantamento. O nosso professor fez falar as fotografias. Gostámos do que elas nos disseram e do que ele nos disse. Aprendemos um pouco mais a olhar para além do visível.


Marília Costa

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Borgonha, De 10 a 13 de Maio de 2012



Visita Cultural a Borgonha, De 10 a 13 de Maio de 2012

VÉZELAY - FONTENAY - CITEAUX - DIJON - CLUNY - PARAY-LE-MONIAL - BOURGES




Responsável: Prof. Doutor José Manuel Tedim